6.4.10

O ensino das línguas estrangeiras

Dados publicados pelo diário i, no dia 5 de Abril de 2010:
3º Ciclo Secundário
Inglês 288294 120257
Francês 228095 15171
Espanhol 37607 14450
Alemão 1712 2528
Ao compararmos os dados do 3º ciclo com os do secundário, vemos que, para além do elevado número de alunos que não continuaram os estudos, a aposta numa segunda língua estrangeira é diminuta. O estudo do alemão é residual e a queda do francês é inexplicável. Entretanto, o espanhol prepara-se para se tornar na segunda língua estrangeira.
Deste modo, de pouco serve falar da internacionalização da economia ou na aposta na qualificação dos recursos humanos. De facto, a diversificação dos mercados e dos nichos de ciência e de cultura deveriam obrigar-nos a uma política do ensino das línguas estrangeiras totalmente diferente da actual.
Sem retirar importância à aprendizagem do inglês, convém relembrar que esta é a língua da globalização. Ora um país pequeno só poderá sobreviver à hegemonia da cultura anglo-saxónica se conseguir penetrar em universos linguísticos e culturais diferenciados. O futuro da própria emigração passa pelo domínio do maior número possível de línguas estrangeiras.
Curiosamente, a forte imigração que ainda se faz sentir em Portugal deveria motivar-nos a aprender as línguas desses “estrangeiros”. Todavia, tal como fizemos no período colonial em que rejeitámos as línguas dos “nativos”, continuamos a pensar que os imigrantes é que devem aprender a língua portuguesa.
Em Portugal, quem é que define a política do ensino das línguas estrangeiras?

4.4.10

No cante, o miúdo aprende a construir a muralha…

 O Aqueduto, o verdadeiro, vê passar a sua réplica e, impávido, procura outros horizontes, talvez, saídos do cante alentejano.  O cante movimenta-se como muralha dando voz à alma colectiva.  

3.4.10

O miúdo que pregava pregos numa tábua...

Em Serpa, li, em poucas horas, a última novela de Manuel Alegre. Por aqui ainda não encontrei o “miúdo” a não ser nas páginas dos jornais. E dificilmente o encontrarei, pois o autor reconhece «eu sou eu mesmo a história e as personagens». Ora Serpa é terra que, em vez de ter riscado a Ode Marítima, prefere rasurar o EU.
Do ponto de vista do género, este livro da vida parece-me uma daquelas novelas em que as personagens mais não são que a circunstância do herói. Ou será do anti-herói? O miúdo lembra-me o pícaro do Fernão Mendes Pinto! No entanto, não creio que o autor queira ir tão longe.
De certo modo, por entre considerações felizes sobre a descoberta e aprendizagem do ritmo da vida e da palavra poética (da escrita), há um «chegar-se à frente» que incomoda. Os protagonistas da obra, sobretudo, em prosa, lembram-me aqueles putos, algo machistas, marialvas e narcisistas, sempre à espreita para responderem perante o espelho: pronto, presente
Para quem já leu grande parte da obra de Manuel Alegre, «O Miúdo Que Pregava Pregos Numa Tábua” repete a maioria das obsessões do autor, e insiste num retrato confessional do EU, herdeiro do bom selvagem, capaz de resistir à maldade social, e de reconstruir a memória, quase sempre, em seu favor.
Afinal, todo o herói acaba, um dia, por falhar ou acertar o tiro quando menos lhe convém. 
PS: De qualquer modo, recomendo a leitura desta novela a todos aqueles que ainda não perceberam o que é a literatura

2.4.10

O Museu do Relógio em Serpa…

      Serpa é uma encruzilhada de memórias (de tempos). E para quem negligencie a passagem das horas, nada melhor que entrar no Museu do Relógio de António Tavares D’Almeida. Este museu, privado, é único na Península Ibérica e abriga 1800 peças. Algumas são únicas e capazes de nos recordar como os poderosos queriam marcar a megalomania do respectivo tempo.

1.4.10

Serpa… outra cal, outra luz…

  De Lisboa a Serpa são 199 km. Metade da distância é olival a perder de vista… aposta de espanhóis e de portugueses que recebem da União Europeia milhões e milhões de euros! Agora que se publicam os prémios recebidos pelos gestores das principais empresas e, também, intermináveis listas dos devedores ao fisco, bom seria se soubéssemos quem são os novos senhores do Alentejo e, sobretudo, qual é o seu contributo para o tesouro nacional.

À margem, ou talvez não, o parque de campismo encontra-se cheio de holandeses, alemães e ingleses que nos procuram não só pelo sol e pela tranquilidade da planície, mas, também, porque o preço da estadia é convidativo.  

31.3.10

O Santuário de Nossa Senhora de Lurdes

O Santuário de Nª Senhora de Lourdes implantado num cabeço na localidade de Outeiro Grande, paróquia de Assentis, Torres Novas, atraiu nas primeiras décadas do século XX elevado número de crentes e peregrinações. Foi um lugar de fé, até ao momento em que as discórdias sobre a sua verdadeira pertença começaram a surgir. Tudo começou em 1908, antes da implantação da República, em 1910, e das aparições de Nossa Senhora em Fátima…
Sempre olhei para aquele local com algum incómodo. Encerrado, sem gente, ventoso, de costas para a Serra de Aire. Certamente construído pelo fervor de uns tantos crentes de Deus e do Rei, o santuário seria um baluarte contra os ateus e os maçónicos… Hoje, voltei a subir o cabeço. Tudo fechado, o mesmo vento de outrora, algum musgo e aves furtivas… Do outro lado da estrada, uma lixeira a céu aberto no país dos sucateiros…
Entretanto, a rádio transmitia da Assembleia da República a missa republicana, onde Sócrates pontificava e exortava os hereges a apresentarem medidas para resolver os problemas do País…, como se ele os quisesse ouvir… Já nem a fé nos salva!
Quanto ao proprietário do santuário, o problema está QUASE resolvido… 100 anos depois! E quanto à lixeira, não se percebe se a ASAI (?) costuma atravessar o concelho de Torres Novas. E quanto à missa republicana, o melhor é desligar o rádio. Pensando melhor, o que me está a faltar é CARIDADE, porque a mensagem de LOURDES é clara: DEUS É AMOR E ELE AMA-NOS TAL QUAL SOMOS. Pelo menos foi o que a Virgem Maria repetiu por dezoito vezes a Bernadette Soubirous, na Gruta de Massabielle. No essencial, o mesmo faz Sócrates quando se dirige aos deputados: EU SOU AMOR E AMAI-ME TAL QUAL SOU.

28.3.10

Escola Secundária Liceu Camões

E se mudássemos o nome à Escola? Passado e presente rever-se-iam melhor na mesma instituição…
(As fotos foram eliminadas, não sei por quem...)

26.3.10

Num país de tenentes…

O delator é uma criatura querida. No Parlamento, sucedem-se as comissões de ética e de inquérito que, inquisitoriamente, procuram a verdade. E já percebemos que elas não funcionam sem delatores e relatores. Mesmo que não queiramos, podemos ser chamados a delatar.
Na comunicação social, já não há, como antigamente, fontes. Agora, há escutas largadas na redacção pelos delatores. E o redactor passa a relator ao transcrever as escutas.
Para que ninguém pense que uma conspiração eclesiástica fez ressurgir o Tribunal do Santo Oficio e os seus vorazes sequazes (os abnegados familiares!!!), o Ministério da Educação decidiu introduzir na escola pública um novo actor: o excelentíssimo relator - mistura de redactor e de controlador /tutor... Trata-se evidentemente de uma atenciosa cedência aos escribas, comissários políticos, directores espirituais, gurus e outros que tais. Anuncia-se, deste modo, uma nova casta que não deixará de ser pasto dos corvos.     

24.3.10

Tenentes…

(Quando os tenentes se insinuam junto dos chefes, os pelourinhos crescem…)

O delator aponta o responsável por uma infracção, com o intuito de comprometer o denunciado, tirando proveito junto do chefe.O relator dá, por escrito, um parecer sobre a acção e a ética de um profissional  para ulterior deliberação do chefe.O capataz é um indivíduo lambe-botas capaz de se fazer ouvir pelo chefe.

Leio o i, oiço a Antena 1, ligo o canal Parlamento, atravesso a rua, desço a escadaria, dormito no autocarro, desperto na areia… e os tenentes, frenéticos, elevam a voz até as minhas sinapses explodirem.

Só não compreendo porquê… eu nunca quis ser chefe de ninguém! Mas se o fosse, teria como regra de vida: a eliminação dos tenentes.


21.3.10

Risonho, o futuro da Esc.sec.Camões



E a propósito, para quem se interroga sobre o futuro da ciência e da poesia, transcrevo ARS POETICA de David Mourão-Ferreira:

Roubado à natureza o dossier secreto
Patente a analogia entre o fundo do poço
o rosto de Narciso    o sangue do incesto
há-de tudo prender-se  aereamente solto
Que o verbo seja um espelho   Ao mesmo tempo um véu
Que não baste   no lago   a pureza do rosto
A lira é com certeza a mão esquerda de Orfeu
Mas é a mão direita a que revolve o lodo.

20.3.10

Lugar de massacre…

 Sembène Ousmane (1923-2007).
Hoje vi, finalmente, o filme “Camp de Thiaroye(1988), na Biblioteca do Instituto Cultural Romeno.
Em 1944, um batalhão de atiradores de  diferentes religiões e culturas africanas , acantonado no campo de Thiaroye, no Senegal, espera a desmobilização e o pagamento dos serviços prestados à potência colonial – a França. Muitos deles lutaram em França contra a Alemanha nazi, tendo mesmo experimentado os campos de concentração.
No entanto, esse contributo para a libertação da Europa de nada lhes serve, pois acabam numa cova comum, chacinados pelo racismo da hierarquia militar, simpatizante do regime de Vichy.
Um filme que chega a ser divertido porque, apesar do que separa aqueles atiradores africanos, eles acabam por se entender em nome da justiça… É, todavia, um filme amargo e trágico, porque a Europa continua sem considerar África como sua parceira…
Nota: O título “Lugar de Massacre” , lembro-me, agora, é o título de um romance do esquecido Martins Garcia. Talvez valha a pena lembrar, a propósito deste filme, a dedicatória do autor açoriano: «a todas as vítimas da paranoïa e da incompetência dos déspotas, caídas para nada no campo do dever e do absurdo.»

19.3.10

A mentira…

Tenho um livro para ler e não o leio. Em alternativa, vejo um filme baseado numa adaptação da obra… e faço crer que é a mesma coisa, como se fosse possível reproduzir todas as vozes que atormentam o escritor…

Tenho um livro para apresentar na sala de aula e não o leio. Procuro uma sinopse na internet, copio-a e espero que o professor seja tão néscio que ainda bata palmas…

14.3.10

A Processionária…

  Acabo de tropeçar na Lagarta do Pinheiro, vulgarmente conhecida como Bicho da Peçonha.Mata o pinheiro e provoca irritações graves na pele, olhos e sistema respiratório.

Bem me parecia que os congressos e as peregrinações não eram invenção humana… sem qualquer desconsideração pelas formigas. A partir de agora, posso criar novas e herméticas metáforas. E quanto à peçonha que vem atacando os pinheiros, vou passar a associá-la à peçonha que, no século XVI, invadiu as ruas de Lisboa vinda da Ásia e nos tornou definitivamente vítimas da abulia. Ou seria da acrasia?

(Ó meu velho Sá de Miranda tira-me daqui!)

13.3.10

Depois do crepúsculo…

As nocturnas aves apoderam-se do vazio e à desgarrada impõem um cântico estridente em tudo diferente da harmonia do cântico diurno. Nesta passagem, apercebo-me que as palavras e as imagens ficam incompletas sem as vozes da terra e do ar… No sono que se aproxima, talvez o coro se torne uníssono e sonho da noite anterior se desfaça…

/MCG

Sonho de cacifo…

Que eu saiba, os testes ainda se encontram no cacifo, à espera de terça-feira. Só eu tenho a chave, creio… Todavia, por volta das cinco da manhã de hoje, a quatro dias de distância, ao preparar-me para subir a escadaria, por volta das 7h50, dei de caras com o autor de um dos testes, acompanhado do respectivo encarregado de educação. Esperavam-me para me pedir satisfações: eu riscara uma série lexical, pois não considerara correcta a resposta em que B. me obsequiava com uma lista de hipónimos… De facto, como não enxergara nenhum hiperónimo, não entendia a classificação proposta e, sobretudo, não entendia que fosse possível alguém responder a uma pergunta que eu não formulara…

Até hoje, já me acontecera antecipar durante o sono as perguntas de que precisava para um teste. Mas nunca chegara a este ponto. Se terça-feira, B. e o respectivo encarregado de educação, por volta das 7h50, estiverem à minha espera no hall de entrada ver-me-ei obrigado a mudar de vida…

Neste caso, ao contrário do que Urbano T. Rodrigues pensa, nem no sonho é possível encontrar a redenção… Eis o motivo por que eu respeito todos os suicidas e abomino os directores regionais que vêem atenuantes nas «fragilidades psicológicas», como se estas fossem inatas ou capricho dos deuses. 

11.3.10

Pontes…

 Pontes sem alma lançam-se para as margens, jazem sobre o rio barrento, à espera que lhes façam justiça… Tempos houve que pensei que era ponte ou esteio. Quando o desencanto crescia, via-me na margem ou, apenas, orla… Hoje, nem ponte nem orla! Desespero de ouvir os políticos e os mosquitos, e sonho com a enxurrada definitiva que nos liberte da vacuidade e da imbecilidade…

(Na parede do fundo, olhos pueris e de riso escarnecem de mim…)

9.3.10

A culpa não é do Senhor Gulbenkian…

Esqueci-me de dizer que os patos da foto (post anterior) são do Sr. Gulbenkiam. De facto, os patinhos que vivem nos jardins das fundações não são afectados pelo P.E.C. Estas existem para não pagar impostos ou, pelo menos, para reduzir a carga fiscal dos gansos que nelas crescem.

Bom seria que conhecêssemos todos os gansos deste país! O P.E.C. só deveria ser aprovado, depois da lista dos gansos portugueses ter sido colocada online. Sempre poderíamos aproveitar o tempo livre para depenar uns tantos, em vez de sermos todos depenados – os patinhos é bom de ver.

7.3.10

Patinhos…

 Vem aí o P.E.C.! E nós, patinhos, vamos pagar mais uma vez. O patinho começou a trabalhar cedo. Foi trabalhador-estudante. Convenceu-se facilmente que os sacrifícios pedidos beneficiariam a nação dos mais desfavorecidos – os desempregados, os idosos, os doentes e os debilitados. Os patinhos acreditam na justiça, na palavra dos políticos, na solidariedade!

De vez em quando, os patinhos levantam a cabeça e perguntam por que motivo são eles que pagam sempre a crise. Deixaram de compreender o significado da palavra “crise” – momento perigoso e decisivo. No país dos patinhos, a crise não tem passado nem futuro. A crise é. Como se fosse Deus, a crise dirá eu sou aquela que é para os patinhos. Não tem passado, mas vem de longe, a crise… e os patinhos vão continuar a trabalhar e a descontar…

Com tanta chuva, resta-nos o charco… E se nos afogássemos todos, de que serviria o P.E.C.?

4.3.10

Desse tempo que poderia ser agora…

 «A ilha saturada de água ressuda agora em fontes, cascatas e ribeiros, cujo murmúrio ouvido no jardim, como um solo de flauta modulado a distância, os melros acompanham briosamente chilreando em coro.

Mas o que ia no céu não eram meras combinações ornamentais; as nuvens davam ali espectáculos ordenados, de acessível compreensão, como depressa verifiquei. Comédias e tragédias e autos e farsas

Manuel Teixeira-Gomes, Cartas Sem Moral Nenhuma (XIII).

Comentário: As palavras têm 100 anos; as imagens apenas 6. Todavia, a cor e a harmonia são da mesma idade. E só o artista consegue dar conta desse tempo que poderia ser agora, não fosse a cobiça e a rudeza do aluvião humano.

Por enquanto, acordo cedo para ouvir o chilrear solitário do melro que mora na palmeira em frente…

/MCG

1.3.10

Em tempo de mentira…

Despe-te de verdades/ das grandes primeiro que das pequenas/ das tuas antes que de quaisquer outras /abre uma cova e enterra-as / a teu lado (…) Discurso ao príncipe de Epaminondas, Mário Cesariny, Manual de Prestidigitação, 1956.

E se lançássemos  este grão à terra, agora que ela está tão macia!

27.2.10

Moinhos

 (Se eu bem compreendi o Professor Jorge Ramos do Ó, os primeiros moinhos são coevos da minha infância, e os segundos contemporâneos da minha adolescência – construção da Escola, em particular dos Liceus. Perante o adiamento da idade da reforma, pareço condenado a nunca sair da adolescência!)

Outrora, aos 10 anos, a criança ao entrar no mundo do trabalho tornava-se de imediato adulta. Uma criança adulta, incapaz de se adaptar à mudança tecnológica, ao ritmo exigido pela produtividade…A Escola pública do início do século XX resulta da necessidade de produzir um proletário mecânica e moralmente adaptado às novas necessidades de produção. Deste modo, foi criado um longo período de aprendizagem cujo termo significava, para quem o superasse, a entrada no mundo do trabalho, devidamente formatado e moralmente adequado.

Esta engrenagem mecânica e moral  apostou na adolescência para dar corpo às juventudes fascistas e comunistas que nos campos de batalha cometeram as maiores atrocidades em nome da superioridade da raça ou da classe. Durante muito tempo saiu-se da adolescência para o campo de batalha,  criando a ilusão que o trabalho nunca faltaria a quem a Escola acomodasse para a vida activa.

Se houver coerência neste meu raciocínio, Jorge Ramos do Ó terá razão ao afirmar que na Escola nada mudou nos últimos 100 anos. Não mudou a Escola mas mudou o Mundo. A organização, disciplina e conteúdos propostos pela Escola já não são necessários, sobretudo desde que a escolaridade se tornou obrigatória (4, 6, 9, 12 anos).

Chegámos a uma encruzilhada, em que ou alargamos a escolaridade até aos 35 anos e, consequentemente, a adolescência, ou encerramos as Escolas e o respectivo paradigma. Às portas do caos, acabaremos por medir forças mais uma vez, a não ser que o planeta ponha fim à aventura humana.

24.2.10

…a existir só agora pode ser

(…) “Podes partir. De nada mais preciso / para a minha ilusão do Paraíso.” David Mourão-Ferreira


Se o Paraíso não está nem antes nem depois, a existir só agora pode ser, o que pressupõe que as categorias de passado, presente e futuro não passem de dimensões do agora. E creio ser essa a procura do existencialismo que para se afirmar, rejeitando o passado e o futuro, inaugura o parque da memória, escalando os prazeres em sedução, conquista e história dita /escrita.

Olhando um pouco mais de perto, embora não o tenha dito, foi essa a lição do poeta Vasco Graça Moura, ao convidar-nos a dizer, ouvir, memorizar os versos do David Mourão-Ferreira. Em cada verso escorre o agora, nas suas dimensões de passado, presente e futuro… E esse é o território da poesia, do ser… e sempre que ela acontece, o paraíso ganha corpo.

22.2.10

A ribeira do Funchal…

 Dia 29 de Outubro de 2004. Naquela data, pensei que havia alguma coisa de errado. Quase seca e suja, a ribeira destoava naquele jardim… como se tivesse sido esquecida. De súbito, acordou e afogou a cidade num mar de lama e de morte.

/MCG

21.2.10

Esc(re)ver…

Escrever, quando as forças da natureza reivindicam o espaço que lhes foi sonegado, ontem, na Madeira, hoje, sabe-se lá, no Continente, pode parecer um acto de alheamento. No entanto, escrever tanto pode ser sobre  leitos de rios, ribeiras e arroios que foram ocupados pela ignorância ou pela cobiça dos homens, sobre as encostas e as falésias a quem inadvertidamente matamos os socalcos ou sobre o alfaiate, que, sozinho, insiste em varrer o lodo Tejo e engolir todas as  minhocas que lhe surgem.
E também se pode escrever sobre o Poeta (D. M-F.) que anunciava ao mundo (ou seria às mulheres?): «Prazeres que prefere: os que o papel e a pele lhe proporcionam». Os prazeres tácteis, diria eu, de quem não resiste à tentação de sentir o mundo na ponta dos dedos!
Escrever é, assim, dar luz ora à pele ora ao osso, sem esquecer uma certa adiposidade que os  pode enredar. E a propósito, não posso deixar de me interrogar sobre a tradução do título de um filme de François Truffaut LA PEAU DOUCE, em português, ANGÚSTIA, estreado em Portugal a 8 de Outubro de 1965. A doce pele da jovem Nicole que incendeia e arruína Pierre Lachenay, traduzida em português, perde a força perturbadora que o corpo irradia para se transformar num sentimento decadente e irreversível – angústia. Malhas que o império tecia!

19.2.10

Uma boa notícia…

Fernando Nobre não tem qualquer hipótese de chegar à presidência! No entanto, vai obrigar os políticos a repensar as dimensões da acção política. No essencial, Fernando Nobre é herdeiro de Lurdes Pintassilgo cujo tempo político foi efémero… Será Fernando Nobre capaz retomar os valores da antiga primeira ministra?

16.2.10

O Tejo

 Nas estradas do passado, há uma que, a espaços, reaparece. O Tejo. Ultimamente, vem ocupando cada vez mais espaço. Aqui, em Alhandra, em dia chuvoso de Carnaval, o Tejo corre cinzento, cor de cimento… pronto a mudar de mãos com o consequente empobrecimento das populações ribeirinhas, já de si tão abandonadas. Os sinais de decadência estão à vista. Basta olhar as casas em ruína, a sinuosidade das vielas. Nem Deus se mostra disponível, tão íngreme é a escadaria! 
O Tejo devia ser uma via nobre e estruturante do nosso crescimento; pelo contrário, arrasta-se ora tímido ora revoltado sob o olhar indiferente dos governantes que só se lembram dele para construir mais uma via rápida, como se ele não passasse de um escolho... 

14.2.10

Caminhos II

De cima, não avisto o lugar onde outrora subia a estrada que se perdia na curva dos moinhos. Olhava a serra próxima que matava o horizonte; uma encosta, em labareda, cegava-me a vida. Se virava à esquerda, percorria dois, três kilómetros, e regressava à origem. Durante anos, a estrada orientou-me para a direita, levando-me a outro castelo, cujas muralhas se tornaram confidentes, muralhas fernandinas, outrora testemunhas da barbárie de D. Pedro I, ali, na janela do Condestável, em nome de amores proibidos ou imaginados…, também eu fui atirado à vida por insuficiente fé.
De regresso à origem, sem consciência da minha vizinhança com Pedro Álvares Cabral, jazente na Graça, deixei de virar à esquerda ou à direita, e passei a caminhar em frente, desembocando nas margens do Nabão, donde, na encosta, observava o Convento de Cristo, como se este ali estivesse para me obrigar a reflectir sobre a fé que nunca compreendera…
À esquerda, à direita, ao centro… sempre o castelo e a encosta que me cegavam a vida. E lá longe, lá em cima, ficam África e o Brasil… e eu continuo aqui em baixo. Sem fé em Deus e nos homens. Até quando? Só os caminhos continuam a levar-me…

13.2.10

Caminhos de Ourém

Do terramoto de 1755, sobrou apenas o túmulo do IV conde de Ourém, neto de Nuno Álvares Pereira e de D.João I. No entanto, logo no reinado de D. José, este mandou reconstruir castelo e igreja. 

Castelo, túmulo e pelourinho evidenciam a riqueza herdada de D. Nuno Álvares, senhor quase absoluto do território, em paga do seu patriotismo, entre 1380 e 1385. O seu neto viaja  para terras de Sabóia e de Itália e consigo traz o estilo italiano, visível no castelo e pelourinho ( a águia de Sabóia).

A abertura à Europa, começou cedo, apesar de, quase simultaneamente, lhe termos voltado as costas. A sombra de Espanha atirou-nos ao Atlântico e, logo que nos distraímos, lançou-nos nos braços dos jesuítas.

/MCG

11.2.10

Preocupante

Vivemos um tempo em que todos temos opinião sem sentirmos necessidade de a fundamentar. Deixámos de procurar e ponderar argumentos. Os bons e os maus exemplos da História não nos interessam minimamente. Acreditamos piamente nos nossos caprichos e desvalorizamos por inteiro o estudo e o trabalho. A paródia tornou-se o género predilecto.

Ora, como bem sabemos, a paródia sempre recorreu à manipulação dos dados e ao empastelamento da informação. Em Portugal,  a paródia é um género antigo e temível. Actua à sombra da liberdade de expressão e não resiste a censurar ou até em liquidar o alvo.

Paradoxalmente, a paródia está a matar a caricatura.

6.2.10

Destroços em Escaroupim

  

Em ESCAROUPIM, o barco era o berço, a câmara nupcial, a oficina e a tumba para os AVIEIROS, oriundos de VIEIRA DE LEIRIA. Em Junho/Julho de 2005, passei por aqui. A estrada melhorou, o restante estagnou. Em tempo de profunda crise, o Tejo corre lamacento; as mulheres, ao sol, conversam ; o homens escondem-se na cantina / centro cultural dos avieiros.

E eu, vou pensando que, um dia, talvez, um Governo decida criar um programa nacional de cultivo de 20% dos campos deste país… Se isso acontecesse, quantos desempregados encontrariam um rumo?

E se limpássemos as margens e  os pegos dos rios? E se reflorestássemos, montes e vales? E se recuperássemos o património?

Será assim tão dispendioso e difícil criar um projecto nacional que aproveite a mão-de-obra disponível?

2.2.10

Rendilhado…

  A poucos metros de distância, a solidez da cor esmaga cúpulas de outrora; a delicada renda aberta liberta o verde da copa… E eu descanso o olhar num mergulho ascensional que me deveria afastar do labirinto em que me deixei enclausurar. Aqui, as regras ficam para trás; o rumor esfuma-se; apenas, sobram resquícios amorosos de livre arbítrio …

(O resto é desencanto, alheamento… enorme maçada.)

30.1.10

Para além do futuro…

 Há o perto e há o longe. Do presente, apenas a proximidade onde se esconde o cemitério anunciado pela forma esguia e gótica – sensações de ausências por explicar. Do passado, seis moinhos perfilados testemunham os destinos breves e desprendidos; ao mesmo tempo, trazem de regresso o atalho e o tojo, o burro e a saca, o moleiro e a mó – farinha e farelo da existência.

Fica a bifurcação, onde, por enquanto, nada passa e que eu percorro só de a olhar.

27.1.10

A chave do Homem…

Por mais hipóteses que coloquemos sobre  o Homem, dificilmente chegaremos a algum lugar se ignorarmos a chave que Camões nos deixou. Podemos vasculhar lugares, linhagens, amores furtivos, brigas noctívagas, simples alistamentos ou desterros, heróicos naufrágios românticos, protectores e detractores, esquecimentos deliberados…, a chave do homem está à nossa mão:
«Nem me falta na vida honesto estudo
Com longa experiencia misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se achão raramente».
Camões, Os Lusíadas, X, 154.
E essa chave resume-se à típica tríade camoniana: HONESTO ESTUDO, LONGA EXPERIÊNCIA, ENGENHO.
Como diria Cícero: «doctrina» ou «ratio» ou ainda «ars»; «exercitatio» ou «industria»; ingenium» ou «natura»…
(Se nos inclinarmos um pouco, ainda poderemos acompanhar o Poeta e entreabrir a porta do futuro…)
PS: Não vale a pena invectivar quem não procura a chave ou, então, já a perdeu. A NATURA, não a podemos escolher… e a HONESTIDADE já teve melhores dias.

25.1.10

Dar, ou não, a dica…


  1. Ontem, percorri um troço de cerca de 30 km da N2 e fiquei estupefacto com a degradação daquela estrada nacional. Será que o objectivo é obrigar os automobilistas a procurar a auto-estrada e a pagar portagens? As consequências estão à vista: a desertificação do Alentejo e o isolamento das populações que restam.
  2. Ontem, também, recebi um “comentário” da Xica a solicitar-me uma dica. Diz ela que leu (mas não compreendeu nada!) a peça O RENDER DOS HERÓIS, de José Cardoso Pires. Xica não estudou certamente a História do séc. XIX, designadamente, a governação do Costa Cabral, a revolta da Maria da Fonte e o movimento da Patuleia. Sem esse estudo, dificilmente, poderá compreender a ascensão e queda do populismo. E nada entenderá da pretensão de José Cardoso Pires de retratar o salazarismo dos anos 50-60 do século passado.
  3. «Dar a dica» dar a alguém a indicação que lhe serve para realizar o que pretende.
  4. Um dia destes, ninguém cruzará a Nacional 2! Um dia destes, ninguém lerá O RENDER DOS HERÓIS!
  5. Um dia destes, navegaremos tão céleres que os espelhos embaciarão de vez.

23.1.10

Cores líquidas na barragem de Odivelas

  Na barragem de Odivelas. Longe da cidade caótica, raras são as pessoas; apenas alguns coelhos, surpreendidos, precipitam-se para os juncais. 

22.1.10

As Batalhas no Deserto

O escritor José Emílio Pacheco nasceu na cidade do México em 1939 e cresceu durante a presidência de Miguel Alemán Váldes (1946-1952).

O mandato de Miguel Alemán (Valdés) ficou marcado por um forte desenvolvimento industrial, resultante da aposta na construção de estradas, caminhos de ferro, portos, escolas, bairros de renda económica, e no turismo. As mulheres puderam votar pela primeira vez nas eleições municipais. No entanto, este espírito empreendedor acabou por degenerar no enriquecimento escandaloso dos políticos que negociavam os contratos …  A moeda acabou por desvalorizar provocando a ruína da classe média e dos mais pobres…

A história de amor impossível, entre o jovem imberbe e a misteriosa mãe do amigo Jim, decorre  num cenário de crise moral, social  e económica, resultante da ganância de uns tantos que, sob a capa do desenvolvimento do México, criam fronteiras que muram e asfixiam as classes mais numerosas… Progressivamente, uma elite apropria-se da riqueza… tal como acontece nos dias de hoje, aqui, em Portugal… A descrição da acção de Miguel Alemán não deixa de nos fazer pensar em Sócrates…

20.1.10

Do amor à pátria…


Nas primeiras páginas do Contrato Sentimental, de Lídia Jorge, encontro um poema do mexicano José Emílio Pacheco que começa por afirmar «Não amo a minha pátria. / O seu fulgor abstracto inacessível. / Porém (ainda que soe mal) daria a minha vida/ Por dez dos seus lugares, certas pessoas…». A leitora, Lídia Jorge acaba por desenvolver a ideia de J.E.P., no conjunto de textos em que nos convida a apostar no Portugal futuro, mesmo que isso signifique romper com o Portugal expansionista e colonizador… Involuntariamente, penso no verso de Pessoa /Reis "Prefiro rosas à pátria, meu amor." E também nas Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental, ciente de que a Lídia Jorge falta a competência argumentativa de Antero e a subtileza interpretativa de Eduardo Lourenço, sem esquecer o messianismo luminoso de António Quadros…
Nesta deriva comparativa, começo a ler As Batalhas do Deserto, de José Emílio Pacheco, desperto para um critério de leitura de Rosa Montero que divide os autores em memoriosos e amnésicos. Dicotomia que me agrada, pois, sem ser autor, não deixo de me situar do lado daqueles (os amnésicos) que "não querem ou não podem recordar; certamente fogem da sua própria infância e a sua memória é como um quadro mal apagado."
A esta hora, decido não falar da surpresa que é ler As Batalhas do Deserto, porque, de facto, estou a reler Cão Como Nós, de Manuel Alegre e a pensar no modo como o candidato à Presidência da República conjuga: cão como nós / cão como tu / cão é cão. E também não vou concluir a reflexão, porque Sarah Kane me está a recordar que antes de adormecer ainda devo terminar a leitura da peça RUÍNAS.

17.1.10

Os novos lugares

Os novos espaços escondem e revelam. A memória do passado fica em quem ali trabalhou, uma memória de guerra, colonial, em nome de uma pátria indivisa e sobranceira. Talvez, convenha esquecer essa pátria que colapsou nos anos 70 do século passado! A dinamite serve agora para abrir as fundações do futuro, em condomínio fechado, apesar de alguns equipamentos sociais – as famigeradas contrapartidas do negócio! Com vista para a ponte Vasco da Gama, as gruas, desajeitadas, suportam o peso dos materiais e da ambição humana, libertando os novos escravos para tarefas menos árduas ou simplesmente para o desemprego permanente, para a indigência…

Na nova pátria, os polícias continuam a autuar os condutores incautos, indiferentes aos veículos estacionados na mesma rotunda. Os outdoors convidam-nos ao aconchego evasivo da fantasia. O verde estende um breve tapete do que foram hortas vicejantes e auto-suficientes. Os candeeiros, inúteis a esta hora do dia, anseiam pela penumbra que lhes devolva a razão…

E eu, simplesmente, caminho a pensar que a professora Amélia Lopes acaba de fazer um diagnóstico arrasador do insucesso escolar em Portugal: “Mais velho, mais qualificado e maioritariamente do sexo feminino” o docente perdeu o pé… Quem precisa de experiência, de exigência, de compreensão nesta nova pátria?

De facto, o rejuvenescimento esconde o passado. E eu continuo a deambular, evitando falar de Cesário Verde, não vá ferir a epiderme dos nautas do presente.

16.1.10

Sem glória nem grandeza…

Junto ao Tejo 021

Outrora, os imperadores romanos, vitoriosos, mandavam erguer monumentos para inscrever o seu nome na História. Napoleão, imperador, em 1806, também, não resistiu a essa pequena vaidade.

Hoje, deparei com um Arco do Triunfo no Museu da Electricidade. Felizmente, é de plástico! E por perto não avistei qualquer imperador. Só pescadores de rio, ciclistas de fim-de semana e casais de meia-idade. O Sol escondera-se, envergonhado de ainda haver quem o queira ofuscar com o poliéster.

15.1.10

Haja Inverno na terra, não na mente. (FP/Ricardo Reis)

O forte sismo (7.0 na escala de Richter) que atingiu o Haiti terá feito mais de 100 mil mortos. A ilha caraibenha virou cenário de destruição quase total.

 

Os mercados de Wall Street fecharam em queda, penalizados pelos títulos da banca, após divulgação dos resultados do JP Morgan, cujas receitas ficaram abaixo do previsto.

O ex-deputado socialista Manuel Alegre afirmou hoje estar disponível para ser candidato da esquerda às próximas eleições presidenciais que acontecem em 2011.

O apelo de Cavaco Silva ao consenso partidário na redução do défice e da dívida externa teve respaldo no Governo.

Quase um mês depois, Amado e Reis cruzaram-se num acto social no Palácio de Belém. Luís Amado cumprimentou Carlos Reis e convidou-o para almoçar. «O convite nunca se confirmou».

A tragédia do Haiti não afecta os mercados financeiros mundiais!

A tragédia do Haiti não afecta a disponibilidade do providente Manuel Alegre!

A tragédia do Haiti não afecta o orçamento português!

A tragédia do Haiti não afecta os ajustes de contas!

Nem a tragédia do Haiti nos faz parar e pensar!

Ficamos, no entanto, a saber que, quando um forte sismo atingir Portugal:

  • Os mercados financeiros mundiais não serão afectados;
  • A disponibilidade do providente Manuel Alegre não nos terá feito sair do desnorte em que vivemos;
  • O orçamento português de 2010 (nem dos anos seguintes) nada dirá quanto à obrigação de afectar recursos para (re) construir as nossas aldeias, vilas e cidades em bases mais seguras;
  • Os Reis e os Amados continuarão emplumados.

 

14.1.10

Amanhã, como será?

 Hoje, o “DN JOVEM” voltou à Escola. E explicou qual foi e pode ser o papel de um suplemento literário: dar voz a quem a não tem; dar voz a quem a procura; dar voz às pulsões mais recônditas; colocar em rede vozes longínquas e diversas; afrontar códigos cristalizados; dar a iniciativa à juventude…

13.1.10

Barreiras à solta…

 

Se quiser salvar uma língua de prestígio como o francês, ameace com a oferta do espanhol. A língua vizinha assusta! Parece que esta língua deixou de estar à altura do "século do ouro"! Ter-se-á tornado numa língua "demasiado fácil"?!

Como é que medimos o prestígio de uma língua?

(Um ministro português afirmou recentemente que a língua portuguesa vale 17% do PIB.) Seria interessante saber quanto valem a s outras línguas para os respectivos países.

 

Ainda fará sentido temer a Espanha? O medo é um instrumento facilmente manipulável. Sobretudo, quando a comunicação entre os povos é escassa. E a comunicação autêntica só é possível na língua, neste caso, nas línguas – portuguesa e espanhola – gerando um salutar e próspero bilinguismo.

Considerando as nações que constituem a Ibéria, uma educação plurilingue e intercultural deveria assentar no bilinguismo e no biculturalismo, quer falemos de Portugal, da Galiza, da Catalunha, do País Basco… ou de Castela…

Haverá ainda quem acredite numa economia pujante em Portugal sem a cooperação com Espanha?

E se a estratégia de recuperação económica passar por Espanha, que língua devemos utilizar? - O Inglês? Um novo crioulo?

 

 

 

12.1.10

Desafios

Responsável involuntário por um departamento curricular de línguas, interrogo-me sobre o que fazer com ele. Um departamento, histórica e geneticamente, dividido. Aparentemente, o primeiro objectivo seria eliminar a fronteira, gerando estratégias de socialização…

No entanto, sinto que o legislador ao criar esta estrutura procurou criar relações hierárquicas em vez de desencadear processos cooperativos…

E por isso creio que a única forma de combater aquele propósito passa por colocar o departamento ao serviço do aluno, procurando contribuir para a sua educação plurilingue e intercultural.

Neste sentido, proponho que sejam desenhadas duas novas estratégias: - uma plurilinguística e outra literária.

O departamento deverá, doravante, apostar estrategicamente na oferta plurilingue: Latim; Português; Português Língua Não Materna; Espanhol; Francês; Inglês e Alemão… Assim como deverá apostar na educação literária, nas dimensões europeia, lusófona e local.

Assim, não só o departamento curricular de línguas poderá vir a oferecer novas disciplinas como, talvez, necessite de repensar a sua oferta no que se refere à área de projecto.

E para que estas ideias possam ser inscritas nos projectos educativo e curricular da escola é necessário encontrar quem queira, em equipa, levá-las à prática…

10.1.10

E se passar este pórtico?

E se passar este pórtico, o que é que eu descubro? Ontem, fiquei a saber que a antiga igreja-sede da paróquia de S. Francisco de Assis, em Lisboa (no Mosteiro de Santos-o-Novo) , só abre à 6ªfeira, às 17h30.
(De acordo com informação institucional: O Mosteiro de Santos-o-Novo é notável, pelo seu grandioso Claustro e pela sua Igreja dedicada aos Santos Mártires de Lisboa: - Veríssimo, Máxima e Júlia, cuja Festa se celebra a 3 de Outubro. A sua utilização inicial foi como Convento das Comendadeiras de Santiago de Espada.)
No entanto, as portas estão fechadas! Porquê? Será porque no mosteiro do século XVII instalaram a residência universitária do ISCTE?
De fora, a ideia é de ruína! Um dos edifícios encontra-se parcialmente arruinado.
Curiosamente, o “Palheiro” albergou o Instituto do Professorado Primário Oficial Português ou Instituto do Presidente Sidónio Pais, tendo o convento das Comendadeiras da Ordem Santiago de Espada sido transformado inicialmente em residência para os filhos dos professores primários. Lá residiram, entre outros, o professor cientista Pinto Peixoto, o humorista Zé Vilhena e a ex-deputada Odete Santos. Esta última, já como estudante universitária e que ficou com uma péssima imagem da instituição.
Apesar de tudo o que eu não sabia antes de me aventurar pela história deste edifício, pelo menos, do século XVII, o que continua na minha retina é que parte da fachada deste património está muito mal tratado e, provavelmente, esconde muitas histórias mal contadas ou por contar, desde que a República tomou conta dele. Sem esquecer os acessos, vergonhosos…
Quem é que gere este património?

8.1.10

Desarrumo na fronteira…

Acordo, casamento, pacto… entre o mesmo sexo (ME/Sindicatos; Homem/Homem – Mulher/ Mulher; Governo /Oposição…) Sem esquecer o Pinto da Costa que, ao contrário de Orpheu, eliminou finalmente a fronteira que separa a vida da morte …

O impossível perde, a cada passo, o prefixo, atirando-nos para o jardim das delícias…

Um jardim, para mim, inefável… tal como Lídia Jorge o define, ao interrogar o futuro, sem perceber que este já não é inevitável: «E o inefável é aquilo que sucede de forma tão densamente expressiva que se torna impossível analisá-lo ou sobre ele falar, para reutilizar a própria semântica da palavra.» Contrato Sentimental, 2009

Ainda perplexo, pensei que era melhor esquecer o dia, quando compreendi que este era diferente dos anteriores. Afinal, a chuva cedeu o lugar ao frio, impedindo-me de mergulhar nas águas regeneradoras da euforia… e, de súbito, regresso aos PARAÍSOS ARTIFICIAIS de Jorge de Sena: Inefável é o que não pode ser dito.

Não há mais pardieiros, promiscuidade, compadrio, censura, mediocridade… no meu país.

7.1.10

Quando a resposta tarda…

Falar do tempo não faz qualquer sentido, embora nos encontros fortuitos possa ser tema dominante. Há muito que o arrumei na gaveta aristotélica da metafísica. Nessa gaveta, guardo tudo o que se vem tornando inexplicável. Lá moram Deus, a Alma, a Vida Eterna, o Sentido… E por isso também não me passa pela cabeça "enganar o tempo"!

O que é irremediável, remediado está! Compreendo que se possa querer enganar o envelhecimento, que esse, sim, é de ordem física! Todavia, não creio que se possa voltar atrás.
O Corpo estrangula o Sentido até que a matéria de que é feito se diluía, se dissolva perdidamente…

Quando a resposta tarda, não é má vontade, é apenas uma recaída… a grande Ilusão!

5.1.10

Dúvida

 

A palavra 'carantonha' é uma palavra simples ou modificada por sufixação? Na 2ª hipótese, qual é o sufixo?

2.1.10

Ter tempo… no Museu do Neorrealismo

Finalmente, arranjei tempo para ir a Vila Franca de Xira visitar o novo Museu do Neo-Realismo. Em destaque, uma exposição (escrevivendo) sobre a vida e obra de Urbano Tavares Rodrigues; outra (completíssima) sobre Soeiro Pereira Gomes; e uma terceira sobre a globalidade do movimento neo-realista,  no que se reporta à literatura, ao teatro, ao cinema e à música.

Para quem não esteja muito apressado, pode, durante 1h30, revisitar os homens e as mulheres que, de algum modo, se opuseram ao Estado Novo e, deste modo, compreender os dramas vividos pelo povo e, também, os dramas sentidos pelos artistas que, em muitos casos, vítimas da censura, da clandestinidade ou das prisões acabaram por ficar prisioneiros das suas circunstancias.

(Entrada gratuita.)

1.1.10

RESPOSTA…

Há uns meses, um colega enviou-me a intervenção de António Nóvoa, no Debate Nacional sobre Educação /  Assembleia da República, a 22 de Maio de 2006. Creio que M.B.Reis me incitava a reflectir sobre as ideias de Nóvoa, num cenário de construção de um Projecto Educativo.

Só hoje encontrei o tempo de leitura necessário ao pronunciamento. Ora, resumindo: em matéria de educação, Portugal continua na cauda da Europa; a insatisfação “quantitativa” e “qualitativa” continua em alta; avessos à «pedagogia”, desvalorizamos a cultura escolar e preferimos o “centro social”, atribuindo à escola uma multiplicidade de papéis que são da responsabilidade da sociedade; em termos de prioridades, dificilmente as conseguimos equacionar e hierarquizar…, de tal modo que os “bons” professores têm gasto uma boa parte do seu precioso tempo a participar ou a testemunhar numa peça que põe em cena o drama do respectivo estatuto e da avaliação docente – tudo questões prioritárias, mas que não asseguram:

  • os níveis mínimos de aprendizagem;
  • o sucesso de todos os alunos;
  • a valorização do trabalho escolar;
  • a satisfação dos interesses dos alunos, com esforço próprio e a maior liberdade que for possível;
  • a recuperação do contrato educativo para reinstituir um sentido para a escola;
  • o alargamento das vias tecnológicas e profissionalizantes;
  • a existência de escolas diferentes, para que se possa falar de liberdade de escolha;
  • o reforço da formação de professores, aproximando-os da realidade escolar concreta;
  • a inserção cuidada dos novos professores nas escolas;
  • a criação de lideranças profissionais num quadro de um trabalho cooperativo.

Pelo que fica dito, parece que construir um projecto educativo pressupõe saber se queremos ser uma escola diferente, isto é, orientada para o futuro; uma escola que aposte, do mesmo modo, na formação humanística, artística, científica e tecnológica; uma escola capaz de definir projectos de aprendizagem; uma escola que valorize o trabalho; uma escola que integre; uma escola que privilegie a profissionalidade e a responsabilidade; uma escola geradora de lideranças…

Já agora, para afinar a reflexão, deixo aqui as palavras de Lídia Jorge: « O lugar da instrução escolar é um lugar único e irrepetível. Não é um local de trabalho, nem é um local concebido para jogo e deleite, é um outro lugar, onde trabalho, jogo e deleite se cruzam de modo a que todo o exercício seja suportável, e a felicidade resulte da aplicação do exercício.» Contrato Sentimental, pág.50, Sextante editora, Setembro de 2009.  

Sombras…

  Maré-cheia, maré-vazia!

De facto, o que mais me tem interessado nesta passagem 2009-2010 tem sido o livro de Lídia Jorge Contrato Sentimental sobre o PORTUGAL FUTURO, a partir da genuína fórmula PORTUGAL=LIXO.