Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
3.10.12
A enormidade
Dia XI
2.10.12
Dia X
1.10.12
Um cavo investigador
« O facto é confirmado por um outro indicador: 41,4% dos alunos de Educação tiveram bolsa de estudo no ano lectivo 2010/2011.» (Expresso, 2.6.2012)
Dia IX
30.9.12
Interlúdio III
29.9.12
Benefícios fiscais e subsídios
27.9.12
A canga e as exceções
Dia VIII
26.9.12
Não chove
já choveu em sevilha zagreb santiago
Um dia irá chover na praça neptuno
resta saber de quem será o sangue
e voltará a chover na praça do império
Dia VII
Como explicar o rumo do escritor romântico, se o destinatário ignora que entre o século XV e o século XIX a matriz foi, em geral, estrangeira - do renascimento ao iluminismo - mesmo que cercados pelo Tribunal do Santo Ofício?
Até o protótipo do império era estrangeiro! A arte apresenta-se como reflexo de uma cultura cujas raízes se encontram fora do solo pátrio. Será assim tão difícil de entender a regra e aceder às exceções?
25.9.12
Praça Neptuno
a chuva sobre a terra seca
cresce involuntário o cerco
da pedra nada sobrará
Dia VI
B - José Luís Peixoto e o «Princípio dos primeiros dias» A redundância aponta o encantamento pelo feminino no que ele tem de ligação à vida, de presença (i)material...A irmã não faz sombra à mãe, está é mais próxima...
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
24.9.12
Dia V
23.9.12
Interlúdio II
Ministro fora de estação
do senhor Luís Portela: “não sei porque é que as pessoas saem para a rua a fazer barulho. Acho que a solução que nós temos de procurar é uma solução construtiva, de cada um, no seu cantinho, dar o seu melhor e procurar soluções.”
22.9.12
Mudança
21.9.12
Interlúdio I
- Os saltimbancos.
- Nome de Guerra
- K4 O Quadrado Azul
- (...)
20.9.12
O caminho
Dia IV
- O lema «...é fraqueza / Desistir-se da cousa começada» liberta-se do Canto I e torna-se mote para a composição de um conto cuja situação inicial e acontecimento modificador ficam ao critério do escrevente (tarefa).
- Desde a função e significado do título, à noção de retrato, secundado pelos conceitos de descrição e caracterização, passando pelo contexto e pelas circunstâncias (espaço e tempo). Há um discurso possível que tudo integre, limpando a língua de modismos artificiosos.
- Se eliminamos o contexto, podemos libertar alguma energia criadora, mas, simultaneamente, cortamos a raiz a outras narrativas igualmente legítimas. Repare-se como na estância 40, a Mercúrio compete ajudar os portugueses a atingir um objetivo ambíguo:«Mercúrio, pois excede em ligeireza / Ao vento leve e à seta bem talhada,/ Lhe vá mostrar a terra, onde se informe / Da Índia e onde a gente se reforme.» Ora esta ideia deve ter sido levada muito a sério pelos portugueses de antanho e também mais recentes. Basta pensar nos efeitos da peçonha na sociedade lisboeta (Sá de Miranda), sem descurar a interpretação de Pessoa (Opiário), em que descoberta a Índia, os portugueses ficaram irremediavelmente desempregados e por isso se refugiavam no ópio.
- Semanticamente, a leitura poderá não ser autorizada, mas poeticamente Pessoa não hesitou!
- Tal como o narrador de Manuel Alegre que, apesar de tardiamente, acaba por regressar a Arzila para libertar o Velho do cárcere em que ficara - um cárcere de armas e de heróis retidos no primeiro verso de Os Lusíadas...
- Ao quarto dia, percebo que estou naturalmente a combinar a língua com a literatura gerando uma mistura explosiva. E por isso só percorremos o retrato do Velho, a isotopia da passagem do tempo, interrompida por «jeans» desbotados... E, sobretudo, percebemos que Alegre tem esperança que possamos sair da situação inicial, pois o «narrador-personagem» ainda tem algumas qualidades: observação, curiosidade, escuta, interação... E é tudo isso que constitui o acontecimento - a resposta, a contra-senha...
- E a contra-senha só pode ser dada por nós, os leitores... o que explica a tarefa.
19.9.12
Dia III
18.9.12
Dia II
17.9.12
Dia I
- Ponto de partida para o universo da intertextualidade. De Camões a Manuel Alegre.
- A História de Arzila
- Tapeçarias de Pastrana
A estrutura do conto
Leituras imediatas:
Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett
Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco
Outras leituras:
Causas da Decadência dos Pvos Peninsulares, de Antero de Quental
Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins
Só, de António Nobre
Finis Patriae, de Guerra Junqueiro
ESCREVER
... um conto
... uma carta de Mariana a Simão
16.9.12
A onda inorgânica
15.9.12
O alvo errado
11.9.12
Matizes e o azul
8.9.12
A agência da morte
6.9.12
Não sei se...
Não sei se fale, se cale!
4.9.12
Apesar de tudo
Vivemos numa sociedade que multiplica os sinais de morte, que convida à desistência ou, pelo menos, à indiferença. E esse decadentismo é tão forte que aprendemos ( e ensinamos) a elogiar aqueles que antecipam «o fim», sem perceber que esta categoria da realidade não é absoluta.
2.9.12
Caminhos…
S. Paulo: « Nous voyons toutes choses dans un miroir.»
Tudo me surpreende desde o autorretrato de Léon Bloy (1846-1917) até ao título da obra panfletária “Belluaires et Porchers”, para cuja tradução proponho “Gladiadores e Porqueiros” o que talvez possa cativar algum leitor mais faminto…
Traduzir esta obra é uma aventura condenada ao fracasso tal é a violência da palavra escolhida, da imaginação verbal do autor, capaz de conciliar o inconciliável num universo em que dominava o antissemitismo, o dinheiro, o colonialismo.. o espírito burguês hipócrita e acomodado.
À medida que leio Belluaires… pressinto que por detrás se encontra um homem zangado, e por isso volto ao início dos capítulos à espera que cada palavra ilumine o motivo, esclareça a traição.
Atravesso as páginas, recuo e avanço, penso em desistir, até que percebo que para Léon Bloy o anúncio da morte de Deus era um´anátema e que, visceralmente católico, condena todos aqueles que se arvoram como pilares da igreja… uma igreja que ignora o Paul Verlaine, autor de SAGESSE (1881)… o único POETA CRISTÃO.
O olhar fixo num espelho feito de símbolos, L. Bloy, manipula a língua como se a palavra fosse o único caminho para a conversão, de comunhão… e por isso tantos se deixaram persuadir: Alfred Jarry, Louis Ferdinand Céline, George Bernanos, Marc- Edouard Nabe…
No que me diz respeito, continuo surpreendido pelo olhar daquele que, medíocre aluno, medíocre empregado, desejou um dia ser pintor, tendo alternado entre o misticismo e a revolta, mergulhado na pobreza extrema, por vezes classificado como anarquista de direita, mas que, no essencial, recusava o fenecer das almas.
E essa não deixa de ser uma questão central!
1.9.12
O regresso da TROIKA
Depois dos banhos, o regresso à terra. A TROIKA voltou para cobrar o que nos emprestou, independentemente do empobrecimento geral ou, mesmo, da fome.
A escola perde professores e irá perder alunos. A saúde tem menos utentes e o país ficará cada vez mais doente.
Tudo envelhece fora de tempo, exceto a Serra do Barroso que, descabelada, espera que a chuva regresse…
Eu espero pelo Dilúvio!
29.8.12
A picota de Montalegre
Esta picota (pelourinho) de Montalegre surge aqui para lembrar que há tradições que valeria a pena repor. Se voltássemos a expor à vergonha pública todos aqueles que diariamente nos roubam, nos agridem, nos atraiçoam e nos aviltam não estaríamos, agora, sob a canga dos credores predadores.
Em nome do bom senso, tornámos a picota inútil, deixámo-la ao abandono nas praças, sem perceber que caíamos nas mãos dos falsos liberais que nos desgovernam.
E a propósito, quanto é que estamos a pagar por todos os pavilhões multiusos que foram sendo construídos nos últimos 25 anos?
26.8.12
Ao lado da N103
25.8.12
Depois da chuva…
Depois da chuva o lugar revela-se fantástico. Para quem procure o isolamento, não há melhor! A internet liga-nos por segundos descontinuados ao mundo. A rádio vende-nos os produtos locais, a começar pelo encontro anual de Vilar de Perdizes. Começa na próxima 5ªfeira. Quanto a jornais nem cheirá-los e a única televisão que enxergo está sempre desligada. Sós dois amáveis cães, de que desconheço a raça, me impediram de seguir caminho. Bem hajam!
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23.8.12
Vilar da Veiga…
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E talvez tenham alguma razão! No entanto, o estado e os empreendedores nacionais continuam a procurar o «eldorado» bem longe, desprezando o que a natureza nos vai oferecendo.
Na minha memória, entretanto, vai permanecer uma paragem de autocarro colocada diante de uma passadeira que deve ter equivocado o motorista, pois apesar de por ali passar três minutos antes da hora prevista, deixou três passageiros «pendurados» à espera do autocarro seguinte… Claro que uma hora mais tarde percebi que o senhor motorista estava em fim de turno e quanto mais cedo estacionasse o veículo à porta de casa, melhor!
Diga-se, de passagem, que nunca percebi por que motivo, seja no Gerês seja em qualquer outra localidade, os motoristas de transportes públicos podem estacionar os autocarros à porta de casa…
22.8.12
De Aguada de Baixo a Viana do Castelo
Tudo indicava que o sol entrara em greve! De Aguada de Baixo a Viana do Castelo, só os portais eletrónicos brilhavam: o automobilista nem tinha tempo para somar as vezes que lhe cobravam a passagem. Uma mina! E ainda se queixam que têm prejuízo!
Viana labiríntica mostrou-me a pedra escura da praia da Areosa, a pretexto de uma bica breve na esplanada que, afinal, serviria para conhecer meia dúzia de entusiastas da arte cinematográfica, em rodagem sobre o desaproveitamento de uma geração. Sem meios, confessam-se independentes! Fiquei a pensar no dia em que Antero exigira a António Feliciano Castilho que o deixasse ser independente, ser livre. Mas não deve ser a mesma coisa…
O Márcio Laranjeira era um desses entusiastas! Pareceu-me um desses seres cosmopolitas que se enganara no lugar e que insiste em andar por cá, qual outro Laranjeira ironicamente desesperado! E a Mariana, que em nada se assemelha à Mariana de Camilo, mais fina e, sobretudo, pareceu-me mais silenciosa, embora comedida…
O quadro deu-me que pensar, como se vê, sobre a facilidade com que se fala em terras de Viana: do iodo, do Bom Jesus, das touradas só para encornar os vianenses, da pronúncia do norte… e eu a pensar que por uma razão que me escapa nunca consigo que o meu velho GPS consiga registar a vila do Gerês. A pensar nas consequências, com o gasóleo sempre a aumentar e o ordenado a diminuir. Sem subsídio de férias nem subsídio de refeição, lá acabei por zarpar para Terras do Bouro. Claro que o GPS só atrapalhou, o rio Caldo continua lotado como se todos tivessem subsídio de férias e subsídio de refeição, e o Vidoeiro também a abarrotar por motivos bem diferentes…
E a noite chegou, já com mossa, para aprender a ficar em casa!
20.8.12
Aguada de Baixo–Águeda
MCG
15.8.12
A Palmeira
Chegou a hora de reinventar o passado. Não o que foi, mas o que resta…
14.8.12
Prefácios
I - Em discurso relatado, Chez Barbey d’Aurevilly, 1882: Paul Bourget: Enfim, Bloy, o Senhor detesta-me, não é verdade? Léon Bloy: Não, meu amigo, eu desprezo-o.
Léon Bloy, que não morria de amores por Paul Bourget, não hesita em tratá-lo por «O Eunuco», talvez porque este ousara publicar, num jornal, «la mucilagineuse préface de son prochain livre». E ao escolher o adjetivo “mucilaginoso” para definir o prefácio, Léon Bloy retrata Bourget como um homem viscoso que facilmente passa do estado sólido ao líquido – a mucilagem é rígida quando seca e pegajosa quando húmida!
II – Maria Lúcia Lepecki, por seu lado, ao reler, em 17 de maio de 1987, «Casa Grande de Romarigães» de Aquilino Ribeiro, e procurando os princípios éticos e estéticos em que assentava a escrita de Aquilino, convida-nos a pensar que o prefácio deste romance, cujos capítulos se distinguem uns dos outros por números, corresponderá ao ZERO – o ponto de partida, o PROGRAMA…
É essa ideia que Lepecki explora na sua leitura do prefácio, deixando-se envolver na teia doutrinária do Autor. E por isso, Ela termina o seu texto de crítica literária ZERO À DIREITA do seguinte modo:
« Uma alegoria também ela dúplice, ao mesmo tempo iconoclasta e iconográfica. Nela se estaria dizendo o País, «personificado» no espaço de uma casa e nos tempos de uma família.»
III Coincidência ou talvez não! O romance Casa Grande de Romarigães foi publicado em 1957 e quem nos governava era o mucilaginoso Salazar… E o PROGRAMA não deixaria de querer acertar contas com o ditador. Um romance a reler num tempo em que a viscosidade se nos agarra à pele.
IV – E a propósito de prefácios, gostaria de destacar três nomes que, por motivos diversos, sempre lhes deram (dão) grande atenção: Almeida Garrett, Osório Mateus, Carlos Reis.
12.8.12
Não sei quem teve a ideia
Não sei quem teve a ideia, mas a instalação parece nascer do chão e enquadra-se bem no Jardim de Santo Amaro (Oeiras). E até o eléctrico, ao fundo, parece esperar por nós para uma derradeira viagem.
O espaço, à medida que avançamos, contrai-se, apesar das janelas que se multiplicam, como se uma miríade de olhos decepcionados se fixasse em nós.
Em alternativa, talvez possamos balouçar-nos uma última vez!
E também não sei porque é que quando escrevo, recorro à primeira pessoa do plural - “à medida que avançamos” - porque nada acontece no plural. É pura ilusão mercantilista! É pura ilusão comunicacional de quem procura a complacência da miríade de olhos sem rosto que me acompanha desde que a luz me despertou…
/MCG
11.8.12
Nem na Caverna de Platão…
Nem na Caverna de Platão se poderia viver descansado. Mesmo que os prisioneiros se mantivessem voluntariamente agrilhoados à sua miserável realidade, eles não escapariam ao olhar escarninho…
Aí estão os muros para nos lembrarem quão risíveis somos!
10.8.12
Um Passeio pela História
«Que me importa /o perfume das rosas /os lirismos da vida /se meus irmãos têm fome?»Agostinho Neto, A Renúncia Impossível
Ao longo dos anos, fui construindo enunciados cujo fim era sintetizar conhecimento e contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e mais livre. Entretanto, céptico, fui assistindo ao crescimento da liberdade que foi pondo termo aos vários muros instalados um pouco por todos os continentes. E essa desconfiança tinha razão de ser pois, nas últimas décadas, essa liberdade em vez de trazer mais justiça trouxe mais desigualdade.
Ao arrumar os papéis, indeciso entre rasgá-los e queimá-los, acabei por tomar a decisão de os disponibilizar. Incompletos e trapalhões, vou-os deixando em http://sites.google.com/site/salamcg/…
Nesses papéis, encontrei os versos do poeta Agostinho Neto, que cito porque também ele sentiu a confusão bíblica que se instalara entre os homens. E por caso, hoje, vi parte de um filme sobre François Mitterrand “Um Passeio pela História”, e dei comigo a pensar que aquele homem, que governara a França entre 1981 e 1995, tinha percebido completamente os perigos que a Europa corria, pois, em vez dos princípios, o mundo passara a ser dirigido pelo capital.
8.8.12
Dos que furtam com unhas invisíveis
A lição é de S.Jerónimo e vem citada na ARTE de FURTAR.
6.8.12
Não são os coveiros…
«Não sãos os coveiros que nos matam. Simplesmente estão lá quando morremos.» Mafalda Ivo Cruz, Mil Folhas, 26 de Janeiro de 2001, PÚBLICO
O registo fotográfico não deixa de impressionar pelo fulgor do volume e da cor da pedra. Porém, passado o deslumbramento, fica por perceber por que motivo, ao longo dos séculos, se insistiu no transporte da pedra para um lugar onde a areia cedo começou a escassear. A exuberância dos edifícios esconde a míngua do homem comum e a vaidade dos governantes.
E passando do coletivo ao individual, nada difere: o egoísmo (ou a cegueira?) de uns leva-nos, de súbita morte, à cova. Passada a surpresa, só o coveiro se empenha momentaneamente em esconder-nos dos vivos…
5.8.12
O fotógrafo
«O etnólogo em exercício é o que se encontra em qualquer parte e que descreve o que observa ou o que ouve nesse mesmo momento.» Marc Augé, Não-Lugares
O fotógrafo é, assim, um etnólogo involuntário. Captura, num momento, linhas de tempo distintas, formas circulares, verticais e horizontais. Captura o grupo e a individualidade, a luz e a sombra…
… e deixa o Infante a enxergar o lado errado da missão, ao contrário do ciclista que segue confiante, mesmo que, amanhã, caia no desemprego.
Mas esse detalhe pouco importa ao etnólogo!
/MCG
3.8.12
Ao mudar a cor
Não aprendo / esqueço. Sombra de mim próprio / rasgo o passado.// Ao mudar a cor /o pavão imagina-se loureiro./
1.8.12
O narcisismo da voz
Cada vez que morre um comunicador, há logo quem afiance que a sua voz ficará para sempre. Não valeria a pena exemplificar se, de facto, isso fosse verdade. Por exemplo, quantos reconhecem hoje a voz de Vitorino Nemésio?
Embora existam registos audiovisuais dessa voz, ninguém sente necessidade de os divulgar. Porquê? Provavelmente pela natureza da mensagem! Do fascínio de outrora pouco resta, talvez porque a eloquência nos impeça de ver a obra.
Todavia, de Cristo ou de Maomé nem rosto nem voz, mas isso não impede que a mensagem continue a incendiar a terra.
Só um narcisista se atreve a enunciar a elocução “Para sempre!”
/MCG
30.7.12
O texto e a imagem
“Quando a sociedade se corrompe / corrompe-se primeiro a linguagem.” Ruy Belo
De acordo com Antoine Compagnon, a cultura literária entrou em declínio, embora não se saiba se se trata de um fenómeno irreversível. A Literatura (As Belas Letras), na perspetiva de Eduardo Prado Coelho (2000), teve o seu apogeu associado ao reforço da ideia de consciência nacional e, consequentemente, à valorização da língua materna.
Algumas das ideias, fundamentadas nas teorias de Derrida e de José Afonso Furtado, são de plena atualidade, nomeadamente, quando EPC afirma: « a média dos alunos é cada vez mais fraca, mas os bons alunos são alunos excecionais – aqueles são perigo, estes a oportunidade.»
Hoje, a globalização, ao diluir as fronteiras, dilui as literaturas e a língua em que a consciência nacional se inscrevia e, por outro lado, a imagem substitui o texto literário, procurando o prazer instantâneo do reconhecimento, mesmo que virtual.
28.7.12
O fazedor…
“O que não se pode é tocar o sino e ao mesmo tempo ir na procissão.” Camilo José Cela |
Eu que, outrora, tive o ofício de sineiro, sentia-me aliviado por não ter de marchar alinhado e aprumado e, ao mesmo tempo, sentia-me excluído do rebanho.
Faltava-me essa qualidade, hoje, muito abundante, que é a de fazedor!
27.7.12
Os outros jogos
Hoje não vi ingleses! Só austríacos, alemães, franceses, holandeses, suecos e portugueses … e creio que, salvo erro, poucos terão pensado na cerimónia inglesa de abertura dos jogos olímpicos.
Por aqui, tal como as rolas, os turistas vão desfrutando o clima e o sossego que a Ericeira ainda oferece…
E concluo com Camilo José Cela: « O que não se pode é tocar o sino e ao mesmo tempo ir na procissão.», in Os Pirinéus de Lérida.