27.9.09

Um novo ciclo democrático…

A partir de amanhã, começa um novo ciclo democrático. Governar em tempo de crise global exige muita concertação e, sobretudo, disponibilidade dos grupos parlamentares para a construção de soluções capazes de mobilizar a sociedade portuguesa, diminuindo as desigualdades e promovendo a produção de riqueza cultural e material.

Qualquer estratégia de bloqueio que venha a ser criada porá em causa o futuro da democracia e abrirá a porta a soluções totalitárias.

Amanhã é outro dia…

Às 8 horas em ponto compareci na mesa de voto nº 10, na Portela, Loures. E votei em consciência e em liberdade! Mais diligente do que eu só a senhora presidente da Junta, candidata à presidência da Câmara que, no seu passo decidido, acompanhava idosos pontuais, mas que não sabiam em que mesa de voto deveriam colocar a “cruz”… Por ela, nenhum deles deixaria de cumprir o seu desígnio!

E votei desapaixonadamente, liberto do espírito de vingança que absorve a lucidez de uns tantos paladinos da justiça e acaba por os atirar para becos-sem-saída.

E não se pensa mais nisso. Para quê? Amanhã é outro dia e não tem que ser o último…

25.9.09

Um país atarantado…

Considerando que a abstenção poderá diminuir nestas eleições em relação às «europeias», resta perceber de que lado estão as corporações que suportam o Estado, depois de Sócrates as  ter afrontado.
Dos partidos da oposição nada há a esperar. Aos problemas e às propostas de resolução, nada disseram. E tudo leva a crer que, na próxima 2ª feira, a mesma oposição faça de conta que nada perdeu no dia 27 e, sobretudo, que o inimigo continua o mesmo.
Tal como o calor insiste em ficar durante o mês de Setembro, também, em Outubro, o país continuará o mesmo: contestatário, mas sem capacidade de resolução dos problemas que mais o afligem.

23.9.09

De regresso à 1ª República…

A comunicação social trocou o rigor informativo pela intoxicação da opinião pública. A verdade e a mentira deixaram de estar em campos opostos, de tal modo caminham de braço dado que acabam por criar um sentimento de desorientação que poderá comprometer o futuro da democracia.

Os candidatos tornaram-se inverosímeis e risíveis. O presidente da República não soube ou não quis afastar-se dos interesses partidários, perdendo muita da autoridade que lhe era reconhecida.

Externamente, o país perde credibilidade, dilui-se em contradições partidárias que hipotecam a legitimidade do Estado.

É no universo do audiovisual que se travam as maiores batalhas. Hostes de comentadores mais ou menos fanatizados manipulam / criam descaradamente factos, evidências…

A palavra, o gesto, a imagem desconcertam a cada momento, introduzem a incerteza…, tornam-nos desconfiados, descrentes, cépticos, convidam-nos a ficar em casa.

Da abstenção falar-se-á na noite de 27, mas é nestes dias que ela cresce…

21.9.09

Em liberdade e em consciência...

«...e votamos em liberdade e em consciência.», A. Souto, Crónica, Floresta do Sul (blogue)
De acordo com Manuela Ferreira Leite, não é bem assim. A liberdade já não é o que era no cavaquismo. De facto, já nos esquecemos do que foi o cavaquismo, presumimo-lo enterrado, mas ele anda por aí,à espreita da oportunidade. Creio mesmo que uma boa parte da desgraça de Sócrates ao cavaquismo se deve ( a outra parte vem-lhe do tempo em que ele, Sócrates, terá militado no PSD!). Finalmente, apesar do que pensamos, não votamos em consciência, porque ao esquecermos o passado, a nossa consciência perde verticalidade.
E por isso, é melhor não esquecer as origens do Bloco de Esquerda. Lá dentro, há de tudo! 
Anda por aí muita gente que já não se recorda de como tudo começou. Atente-se em Mário Soares que não se lembra de quando foi Presidente da República, de tal modo que não lhe repugna uma coligação do PS com o BE. Quem diria? Se lembrasse do papel do PC na sua eleição como presidente, talvez, hoje, apostasse numa coligação de sinal menos radical. Mas se o fizesse, sabe-o bem, perderia o estatuto de paladino da democracia, em 1974 e 1975.
( O melhor seria mesmo sair de cena, mas, quando os interesses estão em jogo, não há ninguém que nos faça abandonar o palco.)

20.9.09

Matizes

Sobre a fina areia, ora corre a lagoa para o mar, ora o mar invade a lagoa. O azul profundo vinca no horizonte a serra.
À volta a lixeira; tudo é clandestino; instalações precárias (pós-25 de Abril de 1974?) que se eternizam. A poeira esmaga o pinhal. O povo também tem direito ao paraíso da Lagoa de Albufeira! Até quando?
Tenho pena de não ter observado se, de facto, António Lobo Antunes continua a ter razão: «A classe SG-Filtro tinha o poster de Che Guevara na parede do quarto, nutria-se espiritualmente de Reich e de revistas de decoração, não conseguia dormir sem comprimidos e acampava aos fins de semana na Lagoa de Albufeira conspirando acerca da criação de um núcleo de estudos marxistasMemória de Elefante, 1979
No entanto, creio que as campanhas antitabágicas nivelaram as marcas de cigarros e, sobretudo, penso que a actual esquerda portuguesa desconhece Che Guevara, Reich ou Marx. A esquerda portuguesa prefere os "gatos fedorentos" às ideologias "fedorentas". A esquerda portuguesa só pensa em ocupar legal ou clandestinamente as "lagoas" deste país, de preferência em condomínio fechado.


18.9.09

Doentes sem saber…

Quando adoecemos tornamo-nos hipersensíveis ou a hipersensibilidade é um sintoma de doença?

Há muitos anos que esta questão se me coloca quando assisto a manifestações de irritabilidade e de agressividade mais ou menos violenta. Com o tempo, aprendi a tolerar comportamentos que a maioria das pessoas é incapaz de suportar, porque, de acordo com a minha experiência, a doença acaba por irromper,  ceifando inexplicavelmente (?) as vidas daqueles que maior dificuldade de autodomínio manifestaram.

No entanto, não posso deixar de pensar que o autodomínio (o silêncio – a suspensão da voz, do gesto) acabará, um dia, por ceder… e esse dia será já de morte…

( Nestes últimos dias, de formas bem diferentes, a voz da morte soprou mais forte do que a voz da vida. )

17.9.09

Quando dizer não é fazer…

«Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como se hão-de converter?» Padre António Vieira, Sermão da Sexagésima, 1654.

Do século XVII para o séc. XXI nada mudou, apesar de ninguém nos querer converter ao socialismo ou à social-democracia. Alìás, das ideologias já ninguém fala.

Fazendo tábua rasa do passado, isto é, das acções passadas, os lideres exortam-nos a ouvi-los, mesmo que nada digam, nada expliquem do que se propõem fazer.

De facto, sem doutrina, sem acção e sem exemplo nada pode ser posto ao serviço da colectividade.

As ideias desertaram da campanha…

A campanha eleitoral avança, os discursos radicalizam-se e o esclarecimento dos cidadãos decresce.

Face ao desemprego galopante, que medidas para o evitar?

O que é que se propõem fazer para melhorar a qualidade dos empreendedores portugueses?

Que passos querem dar para tornar a administração pública mais eficaz?

Como é que se propõem avaliar o desempenho dos administradores, dos directores, dos médicos, dos enfermeiros, dos professores…?

Objectivamente, não encontro respostas. Ninguém espera milagres!

Com a verdade, escondem a mentira; com a naturalidade, cobrem a manipulação e o discurso oral de uns tantos envergonha todos aqueles que não tiveram oportunidade de aprender a língua portuguesa.

15.9.09

Carta Aberta

Ao Director(a) do Centro de Saúde de Moscavide

Exmo(a) Senhor(a) Director(a)

do Centro de Saúde de Moscavide:

Começo por me apresentar: chamo-me (…), e venho apresentar a minha reclamação relativamente às seguintes situações:

1º: Tendo tido necessidade de entrar no vosso site ou de enviar esta carta por email, constatei que este Centro de Saúde não possui nem email(não disponível), nem website(não disponível ou em actualização), o que é infelizmente ainda um facto comum, mas sem dúvida lamentável, ainda mais pertencendo este Centro ao distrito de Lisboa e ao Concelho de Loures, que deveria estar apetrechado de todos estes meios. Deste modo, desconheço completamente a quem me devo dirigir, se este Centro é dirigido por um director ou directora, a identificação deste ou desta, dados imprescindíveis em qualquer instituição de saúde pública interessada em interagir com os seus utentes e em conhecer as suas dificuldades e «queixas»;

2º: Tendo-se reformado a minha médica de família, Drª Teresa Resina, em Junho ou Julho, facto para o que fui informada por acaso em Setembro, quando contactei por via telefónica esse centro, responderam-me para meu espanto que me encontrava sem médico de família, bem como todos os outros utentes, penso eu, por não haver nenhum médico que a substituísse. Este é o meu motivo principal de queixa e de total indignação, pois sabendo vossa excelência com certeza que aquela médica se ia reformar, não entendo como não foi assegurada a sua substituição imediata, pois ficaram sem médico de família mil e tal pessoas, no mínimo, entre as quais se encontra grande maioria de idosos (a população de Moscavide e mesmo Portela é uma população bastante envelhecida), e muitos doentes crónicos, que necessitam de prescrições médicas de medicamentos indispensáveis para as suas doenças crónicas (encontro-me nesse caso). Tendo tido necessidade de validar um atestado médico passado pela minha médica psiquiatra, informaram-me que me podia dirigir a esse Centro às dez horas, todos os dias. Assim o fiz na sexta-feira, dia onze de Setembro, chegando às 8h 50m. Fui informada que nesse dia, o médico que substituía a minha médica afinal vinha às 13horas, voltando eu a esse local às 11h 30m, uma hora e meia antes das inscrições. Informaram-me então que já não havia vagas nesse dia, estando todos os utentes já lá sentados à espera das 13 horas. Desconhecia que era necessário vir tão cedo para tomar vez (possivelmente às 6h da manhã, no mínimo) e não tive outro remédio se não passar o fim-de-semana a pensar no «expediente» que havia de arranjar para conseguir vaga na segunda-feira seguinte (levar cadeira para me sentar, várias refeições para não passar fome, etc). Devo lembrar que eu, tal como todos os outros utentes, alguns com oitenta e tal anos, somos pessoas doentes, no meu caso fragilizada por uma doença auto-imune, que me provoca grandes prejuízos físicos e psicológicos, tais como astenia, grande fadiga, entre outros. Sendo vossa excelência médico ou médica, presumo, não lhe serão certamente indiferentes todos estes factos, podendo-lhe assegurar que já presenciei a muito desespero e angústia de muitos utentes, por razões perfeitamente ridículas e facilmente ultrapassáveis, no Centro que vossa excelência dirige. Pergunto-lhe ainda: no distrito de Lisboa, capital do país, não há realmente médicos interessados em ser médicos de família no Centro de Saúde de Moscavide, ou esse facto deve-se a outros interesses e factores alheios aos interesses da Saúde Pública? Ou simplesmente à intrínseca e histórica desorganização à boa maneira portuguesa?

3º: O facto de terem deixado de fazer marcações por via telefónica ou presencial para as consultas com os médicos de família, dando como desculpa a Gripe A, obrigando todos os utentes a irem para a fila às tantas da madrugada, para se inscreverem por ordem de chegada, é uma medida absolutamente desumana e não praticada em lado nenhum que se intitule por instituição a bem da Saúde Pública. Desconheço se foi uma decisão da autoria de vossa excelência ou se a ela foi obrigada, mas garanto-lhe que é uma medida péssima, não só para a transmissão da Gripe A, como para os interesses dos utentes que deviam ser preservados de tais condições de humilhação e de indignidade em pleno século XXI.

4º: Em último lugar, peço a vossa excelência que envide todos os esforços possíveis junto da Tutela, no sentido de fazer compreender à Senhora Ministra da Saúde e a todos os que têm algum poder para mudar o que está mal, a enormidade e a humilhação para doentes e médicos que constitui a actual legislação que obriga um doente (imaginemos um doente de psiquiatria ou um doente com gripe A ou outra qualquer), a passar horas num Centro de Saúde para o seu médico de família (se o tiver), lhe escrever a mesma coisa que está no atestado passado por médicos idóneos e conhecedores dos doentes, num outro papel, por um médico que não pode conhecer tão bem este doente e que não faz mais do que perder o seu precioso tempo com esta terrível e incompreensível medida 100% burocrática e inútil, que dura há cerca de nove meses. Chega de atentar gravemente contra a saúde pública e contra os direitos humanos.

Espero que esta carta venha a ser ao menos lida por vossa excelência e que seja objecto da sua atenção, pois acredito à partida na bondade e boas intenções das pessoas, sejam elas quais forem.

Informo, ainda, que enviarei esta «carta aberta» para o Ministério da Saúde e, caso não venha a ter uma resposta adequada, nem de uma instituição nem de outra, ver-me-ei obrigada a seguir para outras instâncias superiores, até aos tribunais europeus, pois trata-se, sem dúvida, de um caso de desrespeito dos direitos humanos e de Saúde Pública em Portugal.

15 de Setembro de 2009

13.9.09

A decadência da Ibéria

Enquanto a mentalidade nacionalista se sobrepuser ao factor demográfico, dificilmente sairemos da periferia económica, social e cultural para que nos empurramos, muito por efeito do inquisidor que há séculos reside em nós.

A classe política portuguesa ainda não percebeu o que significa fazer parte dos grandes espaços, seja o da união europeia ou o da lusofonia. Com o 25 de Abril de 1974, regressou às fronteiras de 1415 e por aí continua. Pensa pouco e pequeno. Continua a ver o espanhol como manhoso e inimigo.

Ferreira Leite corporiza este Portugal envergonhado, lembrando a Maria da Fonte perante as tropelias higienizantes e fiscalistas do Costa Cabral, ao querer impor um “estado”, a um país dominado por “juntas”.

Sócrates percebe que o futuro pode ser diferente, acredita no futuro, sabe, em parte, o que é necessário fazer. Falta-lhe, no entanto, a coragem para ser quem, de facto, é. Falta-lhe a coragem para confessar os seus pecados (que parecem ser grandes e nada abonatórios!). E, sobretudo, Sócrates ainda não percebeu que os portugueses são magnânimos para quem pede perdão…

11.9.09

A saúde que nos abandona…

Um psiquiatra passa a um doente um atestado médico que, por força de lei, deve ser confirmado pelo médico de família, para que, no prazo legal, seja entregue no local de trabalho.

Entretanto, o médico de família reformou-se e o utente ficou sujeito a deslocar-se de madrugada ao centro de saúde (Moscavide) sem qualquer garantia de ser atendido até ao final da tarde por outro médico, sobretudo, agora, que os efeitos da gripe A começam a sentir-se.

O relato corresponde ao que se passou hoje com  um utente do serviço nacional de saúde e com muitos outros utentes. Neste centro de saúde nem sequer há entrega de senhas de espera. Por exemplo, hoje, sexta-feira, o utente poderia receber uma senha que evitasse que ele tivessse de deslocar-se, na 2ª feira, às 6 da manhã, para a porta do centro de saúde, sem qualquer garantia de vir a ser atendido no próprio dia ou no dia seguinte...

Não vou continuar o relato, mas esta situação é desumana para qualquer cidadão e, sobretudo, para quem se encontra debilitado e, frequentemente, tem um sistema imunológico frágil.

Num contexto de risco como o actual, a certificação de atestados médicos deve ser urgentemente revista, para que os riscos de contaminação para o utente não aumentem e para que os centros de saúde não fiquem completamente bloqueados.

Em síntese, no contexto actual, tendo ficado sem médico de família, integrando um centro de saúde bloqueado e desorganizado, como é que o doente, que tem um atestado médico passado por um médico idóneo, pode, em tempo útil, sem os prejuízos descritos, entregar um atestado "oficial" no seu posto de trabalho?

8.9.09

Lavemos as mãos!

Há dias em que percebemos que a dedicação deixa de fazer sentido. Não vale a pena contar a história porque as peripécias que a constituem se tornaram absurdas. E quando a história cessa é porque a barbárie está instalada. Lá, no fundo, começo a sentir-me como Pilatos, com a vantagem de, ao lavar as mãos, estar eventualmente a contribuir para afastar a gripe a, b, c,d ...

6.9.09

Cobrindo a Megera, de olho na fera

Cobrindo a Megera, de olho na fera, peça deteatro infantil de rua ,  apresentada no Centro Cívico de Carnaxide, aborda de forma didáctica, mas extremamente divertida, o problema das doenças sexualmente transmissíveis (DTS)... Uma forma de abordar o problema da SIDA,  de modo simples e eficaz.
No entanto, apesar de o público nada pagar, naquela tarde de Domingo, às 18 horas, a maioria dos presentes no Centro Cívico preferiu ficar sentada nas esplanadas adjacentes, à espera do Dinamarca-Portugal. E nem sequer se pode argumentar que os espectáculos eram inconciliáveis! 

4.9.09

Intenções vs propostas

Há em Portugal tantos problemas que exigem resolução imediata ou, pelo menos, que necessitam de análise cuidada para que as soluções não sejam indefinidamente adiadas, e nós o que fazemos?

- Sentimo-nos asfixiados na nossa liberdade porque finalmente alguém teve a coragem de pôr termo à desinformação permanente, ao insulto e à arrogância de 2 ou 3 desbocados… ( em nome da liberdade de expressão! Mas, afinal, o que é a liberdade?)

- Desenhamos paulatinamente a árvore genealógica do chefe democraticamente eleito para, no momento certo, atirarmos para a opinião pública (o eleitorado, no caso) mais um ramo podre… Se o chefe é culpado de algum delito, porque é que não é feita prova? Não deve ser falta de empenhamento dos investigadores! Uma qualquer investigação não pode levar tanto tempo!

- Procuramos os melhores argumentos jurídicos para, no caso do povo oferecer uma maioria absoluta a Sócrates ou a Leite, podermos democraticamente impugnar as decisões do Governo… Que o povo vote, não abdique do seu direito desde que o faça a nosso contento! Cada vez mais as minorias silenciam as maiorias. Tudo porque às minorias não falta a convicção…

Não seria preferível, os candidatos à governação deste triste país apresentarem as suas propostas, debatendo-as à exaustação, para que o povo possa escolher?

Continuo sem saber quais são as propostas dos candidatos, por exemplo, nos domínios da educação e da justiça, sectores fundamentais para a resolução da maioria dos problemas nacionais. E quando refiro propostas não me estou a referir a intenções simpáticas e vagas.

3.9.09

The Fountainhead, 1949

Bénard da Costa na recensão que fez do filme The Fountainhead (Vontade Indómita) escreve: «E explica (King Vidor) que foi ao tempo da filmagem de The Fountainhead  que leu a obra de Jung e que os problemas do auto-reconhecimento, da dignidade interior e do poder e da divindade que cada homem traz em si se lhe impuseram 'If you can't find God in the expression of man, then where do you find it?'»
O arquitecto Howard Roark, inspirado no célebre arquitecto americano Frank Lloy Wright, representa todos aqueles que nascem para acrescentar ao mundo algo de  novo, insubmissos ao gosto e ao mando dos poderosos ou das turbas.
No meio da actual luta política, é bem mais fácil descobrir mil Gay Wynand / Peter Keating ( símbolo do poder dos media, das corporações, em suma do dirigismo das consciências) do que um Howard Roark. Porque será?
Este filme estreou em Portugal a 17 de Abril de 1950 e algo me diz que ele terá ajudado Vergílio Ferreira a enquistar-se contra a literatura oficial do Estado Novo, e sobretudo contra o neo-realismo português.

2.9.09

Ser claro...

Sócrates admite que errou na questão dos professores. Leite quer rever o estatuto da carreira docente. Os restantes pura e simplesmente revogam tudo. Compreende-se a posição do CDS, do PC e do BE - a chefia do governo não passa de uma miragem.
Até aqui, tudo bem. Mas o que é que Sócrates e Leite propõem para que os eleitores possam escolher?
NADA. Adiam a resposta na esperança de, embolsado o voto, fazerem o que lhes der na gana. 
É, agora, que precisamos de respostas claras para que a contestação não desça à rua já em Novembro... até porque, neste país, há quem não saiba fazer mais nada.

31.8.09

A oliveira

                                                                               Quantos anos terá esta oliveira? Apesar da doença que a esventra, persiste hirta e pronta a recomeçar a cada momento... e dá fruto a quem o quiser colher. Conheço-a há mais de 50 anos, no entanto ela parece indiferente à minha presença, um pouco como o elefante ignora a formiga...
A oliveira não avança nem cai, a oliveira cresce e permanece. Mesmo que água lhe falte por uns tempos, a oliveira nutre-se da seiva milenar que gera a vida.
Não conheço os pensamentos da oliveira, mas já percebi que ela não se deixa afectar pela propaganda nem tem qualquer tipo de inveja das minúsculas filhas que se deixaram europeizar.
À oliveira ninguém pede para votar, mas se isso acontecesse ela votaria no arco-íris...

30.8.09

Saramago, o cornaca

«A História é uma tola.
Eu não posso abrir um livro de História, que me não ria. Sobretudo as ponderações e adivinhações dos historiadores acho-as de um cómico irresistível. O que sabem eles das causas, dos motivos, do valor e importância de quase todos os factos que recontam?»
Almeida Garrett, Viagens na minha Terra
Saramago, tal como Garrett, reivindica para o romancista o privilégio de estar do lado da verdade, desde que esta dê a devida atenção ao povo. Ao escritor, iluminado, cabe o mesmo papel que ao cornaca. Montado no cachaço do elefante, o escritor, ora de fato vistoso ora imundo, conduz o povo, não a Santarém ou a Viena, mas ao cinismo e ao cepticismo. A ironia e, sobretudo, a paródia prazenteira dos valores dominantes encarregam-se de nos libertar do peso da História.
No final da leitura, fiquei como a Dona Catarina, ao tomar conhecimento da morte do elefante, Não quis saber, embora não tenha desatado a chorar…
Agora, refeito do impacto, parece-me que Saramago ficou a ganhar a Garrett. Pelo menos por uns tempos, o Ministério da Educação pode declarar A Viagem do Elefante como leitura obrigatória, pois não correrá o risco de cansar os alunos com erudição (desnecessária!), seja ela histórica, política, económica, filosófica, geográfica, literária… Afinal, quem é que tem estômago para ler As Viagens na minha Terra?
« No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas selectiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da pura realidade. Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso.»
José Saramago, A Viagem do Elefante
Quanto mais leio Saramago mais me convenço que se ninguém tivesse inventado os milagres, ele estaria no desemprego! Quanto à História, bem sabemos que o espírito do «revolucionário” é reescrevê-la, ou, em alternativa, queimá-la. E quanto à Geografia, não vale a pena esforçarmo-nos, o santo GPS resolve! E finalmente, sobre os clercs não deixa de ser curiosa a nota (solta) na página 227: «Estas observações talvez venham a ser consideradas desnecessárias pelos leitores mais interessados na dinâmica do texto que em manifestações pretensamente solidárias…»
Ora em termos de dinâmica do texto, fiquei finalmente a compreender a gramática do autor: utiliza a mesmo do seu ilustríssimo antepassado: «tão rápido como santo antónio quando usou a quarta dimensão para ir a lisboa salvar o pai da forca.»
E a propósito, em nome de tratamento igual e solidário, é mesmo necessário eliminar os nomes próprios?
Para terminar, e de acordo com a profunda reflexão de Saramago de que não é possível descrever uma paisagem com palavras, deixo aqui uma foto por identificar, assegurando que não se trata do mar das rosas, a norte de Barcelona.

24.8.09

CEDDO

Ontem, vi o filme CEDDO (1977) de Ousbane Sembene (Senegal, 1923-2007). CEDDO documenta o processo de colonização islâmica de um reino africano. Em nome do Corão, o imã vai ao ponto de desapossar o rei do seu título, pois o termo "rei" só poderia ser atribuído a Alá, tal como proíbe qualquer ícone e ídolo. O processo de colonização recorre à eliminação de todos os sinais de identidade do grupo e do indivíduo, terminando numa guerra santa (jiad)...
O filme tornou-se me interessante porque a literatura (e o cinema) que conheço raramente abordam o papel do Islão na destruição das tradições africanas. Neste filme, curiosamente o padre, representante da colonização cristã católica, não passa de um lunático sem tropas, completamente ignorado, apesar de ser colocado no mesmo plano do comerciante europeu, mais ou menos anglo-saxónico, cujo papel é vender álcool (proibido pelo imã) e armas...
De certo modo, Ousbane Sembene documenta a história da colonização: 1º Cristo, depois Maomé que mantém o seu domínio até hoje, apesar da resistência, sobretudo, feminina. De facto, a mulher africana, na maioria dos países continua a ser a maior vítima da colonização islâmica... No essencial, ficou-me a pergunta: - O que é que é mais importante o ser humano ou a religião?

23.8.09

MEDIOCRIDADE...

Nota crítica

António José Silva Carvalho (Vila do Conde, 1948) tem feito o favor de me oferecer os seus livros a que, infelizmente, não tenho dado a atenção que merecem. Confesso que a leitura nem sempre é fácil e nos tempos apressados que nos governam o mais fácil é suspender a leitura…

Por coincidência ou talvez não, decidi levar a bom porto a leitura de duas obras, à partida resistentes e muito diferentes, mas que, afinal, talvez o não sejam: - Que Farei Quando tudo Arde? (D. Quixote, 2001), de Lobo Antunes; Mediocridade (Aquário, 2000), de Silva Carvalho. De facto, Silva Carvalho, no poema “Insignificação”, datado de 6-10-2000, interroga-nos, à semelhança de Sá de Miranda: / que se poderá viver quando a vida arde / e arfa nos mimetismos da presença? / Tanto Silva Carvalho como Lobo Antunes suspendem os géneros literários em que se inscrevem. Coincidências!

No caso do autor de Mediocridade, a pretendida auto-exclusão da poética de raiz greco-romana leva-o, em compensação, à defesa de uma linguagem porética que define, no texto ENTRE do seguinte modo: / A linguagem porética é um discurso / entre, entre a poesia e a filosofia, / capaz por isso de fazer interpenetrar / a abstracção do pensamento tacteante / no tecido afectivo da expressão lírica. / É um espaço onde a temporalidade / ganha o seu momento histórico, / não porque reflicta a ideia do mundo / ou de tempo concebida pela política, / mas porque inventa um outro mundo / capaz de fazer sugerir a presença / do mundo em que todos vivemos. /

Neste poema, Silva Carvalho define de forma lapidar a sua insatisfação com a arte produzida no Ocidente, uma arte serva de si própria ou engajada, incapaz de dar conta do único “mundo em que vivemos”… e, para tal, procura na escrita a língua que dê conta do fulgor do presente, isto é, da nossa fugaz presença no mundo.

O arco temporal deste livro decorre entre 6 de Julho de 2000 e 30 de Outubro de 2000. Numa 2ª parte, podemos ler um conjunto de “Sonetos Imbecis”, situados entre 13-2-1984 e 15-5-1984. E, na 3ª parte, encontramos um lúcido ensaio sobre a escrita porética de Fernando Pessoa / Alberto Caeiro: À Procura de uma Tradição / Alberto Caeiro, A Linguagem Porética e a Estética da Imperfeição.[1]

O título deste obra – Mediocridade - voluntária ou involuntariamente, expressa a reivindicação de reconhecer à língua uma função mediadora, uma função de vida, num tempo em que para se abafar a memória se acelera a morte das línguas: / A língua não pode ser um deserto / nem desertar o mundo, a língua / arfa no sigilo de si mesma , árdua / tarefa para quem procura sentir / a existência como coisa sensível. /(A Dor, 28-9-2000)



[1] - Perante a quantidade de disparates ensinados aos portugueses sobre este heterónimo, ainda vamos a tempo de corrigir o rumo, lendo o ensaio de S.C. E já agora porque não adoptar nas universidades um contrato de leitura que permita aos nossos estudantes ter um efectivo conhecimento de tudo o que se escreve no espaço da lusofonia, mesmo que os lentes não consigam dar conta do recado? Se isso acontecesse, não teríamos um escritor como António (não é Armando!) José Silva Carvalho, zangado com os seus contemporâneos porque estes lhe passaram ao lado e não viram… NÃO O VIERAM VER..

Em 27 de Setembro...

É decisivo que os portugueses votem em consciência. De acordo com a sua consciência e não em função de argumentos catastrofistas ou de dilemas mais ou menos arcaicos.
Há muito tempo que a esquerda e a direita morrerram. Quem nos governa fá-lo em nome de interesses mais ou menos ocultos... e o interesse tornou-se inimigo da necessidade!
Por isso, em 27 de Setembro, cada português deve equacionar as suas necessidades e expressar o seu pensamento, independemente dos que prometem ou dos que nada prometem.
Prometer 'tout court' pode ser a expressão de um sonho, mesmo que se torne irrealizável. Prometer apenas o que se pode cumprir não ´corresponde a qualquer tipo de promessa, é uma obrigação!
E convém ter presente que os políticos não são nem melhores nem piores do que nós. São apenas o nosso rosto...
E independentemente do sentido do nosso voto, no dia 28 de Setembro, o rio seguirá o seu antiquíssimo caminho...

22.8.09

A falha...

Quando me falha (ou falha à língua) o termo capaz de expressar o sentido, posso sempre recorrer à catacrese... Resta, porém, saber se a falha justificativa do recurso à figura é da língua ou minha...
Nos últimos dias, por razões diferentes, atravessei dificilmente Sintra e percorri, surpreendido, a parte histórica de Tomar. No primeiro caso, falhava o lugar para estacionar ou para sentar (tudo era movimento apertado de gentes mais ou menos estrangeiras ao lugar!); no 2º caso, edifícios e ruas em ruína pareciam apontar uma falha prístina... Lugares por mim longamente vividos, mas que, por estes dias, esperam a chegada não apenas de turistas mas, sobretudo, de dirigentes responsáveis para que as arribas soalheiras deste país não desabem definitivamente...
Nem sempre falha a língua ou o ser, nem sempre precisamos de recorrer à catacrese...

16.8.09

Finalmente...

António Lobo Antunes, Que farei quando tudo arde? (2001)

Finalmente, conclui a leitura deste romance... De facto, agora que cheguei à página 637, sinto que deveria recomeçar a leitura, sobretudo, querendo dizer algumas palavras sobre a referida obra. Honestamente, talvez fosse melhor não o fazer, mas por respeito pelo meu velho amigo Sá de Miranda que, consciente das fraquezas do Amor e da Razão, decidiu trocar o Paço pela Arte. E por isso aqui o cito para que António Lobo Antunes compreenda que o Destino o afastou definitivamente do Paço, onde o senhor dava por nome Gil Vicente. (E nem a nova noiva lhe devolverá a Ilha para sempre perdida!)

Desarrezoado amor, dentro em meu peito,

tem guerra com a razão. Amor, que jaz

i já de muitos dias, manda e faz

tudo o que quer, a torto e a direito.

Não espera razões, tudo é despeito,

tudo soberba e força; faz, desfaz,

sem respeito nenhum; e quando em paz

cuidais que sois, então tudo é desfeito.

Doutra parte, a Razão tempos espia,

espia ocasiões de tarde em tarde,

que ajunta o tempo; em fim, vem o seu dia:

Então não tem lugar certo onde aguarde

Amor; trata treições, que não confia

nem dos seus. Que farei quando tudo arde?

Sá de Miranda

Quando o relativismo comportamental alastrava imperialmente, qual napalm, António Lobo Antunes decidiu mergulhar nos estilhaços de uma família desestruturada, retratando-a de forma fragmentada e, sobretudo, dando espaço a descontextualizadas, travestidas e sangrentas vozes, para sempre incapazes de se libertarem de iniciáticas cenas de traição e de despersonalização.

Fascinado por essa nova realidade, o autor arrasta o leitor para um espaço circular e de non-sense, criando um labirinto em que a palavra e a imagem se tornam no único fio redentor. Quem procura acção situada no tempo e no espaço, quem procura compreender as causas e os efeitos, quem, no limite, admite a peripécia como factor de complexidade ou de equívoco, bem pode desistir da leitura…, aqui tudo se traveste, tudo se intersecciona num permanente fascínio pela enumeração verbal, pela iteração verbal, pelo tom verbal, pelo ritmo verbal, pela imagem verbal, pela metáfora luminosa, como se as coisas (a realidade) se limitassem a flutuar em torno da voz do criador…

À sua maneira, A.L. Antunes dá, neste romance (?) a mesma resposta que Sá de Miranda: Quando tudo (as coisas, os padrões) entra em decadência, então, só a linguagem pode gerar novos possíveis narrativos. Apenas a arte nos pode redimir, principalmente se porética… E quando isso acontece, a leitura torna-se lenta e dolorosa…

Um olhar peregrino

Cansados dos heróis, os habitantes de Hospital de Orbigo...
Uma Ponte com história vê passar os peregrinos, a toda a hora...
História submersa, do lado de cá da fronteira...

15.8.09

Lugares de Astorga

Para o caso de alguém pensar que a caruma ardeu definitivamente neste verão, vou plantar algumas fotografias de lugares que palmilhei em Agosto. À excepção do Gaudi que tive o grato prazer de reencontrar ao serviço de um bispo seu conterrâneo…, gastei os dias a percorrer a rota do românica …

Nota: O último piso do museu dos caminhos já não é da responsabilidade de Gaudi.
Entretanto, alguém arrancou as fotos...

1.8.09

Como ainda não confirmei o "étimo" de Gerês"

A noite e a manhã foram de chuva no primeiro de Agosto. Agora, nem sol nem chuva. A vila do Gerês estava meio adormecida. O percurso do Campo do Gerês para a vila do Gerês é magnífico. No entanto, o mini-autocarro, apenas transportou 2 passageiros à ida e 4 à volta. De acordo com o motorista, este transporte tem pouca procura. No ano passado, como era de borla, as pessoas atropelavam-se para nele viajar. Este ano, que o preço é de 1,50 €, o mini-autocarro circula vazio.
E antes que me esqueça, já que o Torga (Miguel), dá nome a pousadas e restaurantes, lembro que "torga" é nome local de "urze" lilás... por isso, em Torga, havia, malgré lui, tanto cheiro a semana santa... e quanto a flores, vale a pena acrescentar que por aqui as giestas (amarelas) predominam em Maio, sendo conhecidas por "maias". De facto, n'Os Maias, Eça de Queiroz retrata um país apinocado para o amor para, depois, murchar rapidamente...
E se a deriva me é permitida, os nomes que nos dão à nascença marcam definitivamente o nosso futuro. Adolfo Rocha preferiu ser "torga", apesar do festivo "miguel" e hoje dá nome albergarias e casas de pasto enquanto que Eça de Queirós, apesar de ignorado pelo pai, não vai além do prestigiado nome de "escola"... tudo isto sem falar nas ruas e avenidas, claro!

31.7.09

Os Pinhos que se cuidem!

Lisboetas em acção, sob a batuta (deveria ser do Rui!) da Isabel.

Sobras maltratadas do passado.
O amarelo da Serra, embora rasteiro.
Ilusões!
A dedaleira é uma planta medicinal que, se transformada em chá, mata.
Em Cortinhas é a sério! Para tudo é preciso ter jeito! Calcorreei 9 quilómetros e acabei por encontrar o que nos faz falta: atitude.

29.7.09

A Serra Amarela

Foi necessário percorrer 402 Km para chegar aqui. Por entre o verde de Cerdeira não antevejo qualquer explicação para o epíteto "amarela" - Serra Amarela. Talvez, amanhã, consiga uma explicação plausível. No entanto, para quê esforçar-me se há tanta gente por aí que não dá cavaco a ninguém!?

27.7.09

Pingue-pongue…

Hoje é igual a lugares: da Portela de Loures / Sacavém ao Saldanha (Escamões / Fórum Picoas); do Saldanha a Alcântara; de Alcântara à Galp da 2ª Circular; da 2ª circular ao shopping de Torres Novas; do shopping ao Lar de S. Bento; do Lar de S. Bento a Aveiras; de Aveiras a Mem Martins (Ouressa), passando por ESSanta Maria na outrora Portela (Sintra); de Sintra a Mem Martins (Pera Doce); de Mem Martins ao lado esquerdo da Rua do Ouro; da Rua do Ouro à Portela de Loures / Sacavém…

Na rádio, em fundo, enquanto contemplo os vinhedos de Arruda, oiço o despique entre o PS e o PSD e penso que as encostas verdejantes deste país são mais belas que os políticos do meu país – florescem alheias à crise e se o sol ou a chuva faltam não se queixam. E reflicto nos gestos ora de minha mãe ora de minha filha que, imperturbáveis, vivem o enigma: da contemporaneidade do homem (video experimental). A seu modo, ambas se recusam a seguir um rumo diferente daquele que sonharam, mesmo que o próximo movimento seja de queda no abismo…

E como se o dia precisasse de ser legitimado reencontrei finalmente o (António José) Silva Carvalho, ilustre desconhecido da cena literária, igual a si próprio, desterrado no Algueirão que porfia em remar ( “pescador” da Póvoa de Varzim ou será de Vila do Conde?) contra a Mediocridade, edições Aquário:

O QUE É?

Que se poderá ainda escrever / que não tenha sido escrito? / Tudo. Nada foi escrito para o que é,/ para o que está a acontecer. / A palavra de ontem é de ontem, / de outro lugar, de outro tempo. / Não serve para sugerir o que agora / se está a passar, a passagem / sem limites diluindo-se em consciência de um tempo e de um espaço./ (…) 11.07.2000

25.7.09

Os novos figurões…

Em vez de apostar no país, os partidos apostam cada vez mais em castas. Criam-se novos figurantes e reconhece-lhes nobres lutas…, quando, na maioria dos casos, nem minorias representam. Entram em cena endeusados, à medida dos plasmas a que acedemos por “fibra”… Ou será por ráfia?

Qualquer português consegue identificar meia dúzia dos problemas que nos atormentam e, também, conseguirá apontar duas ou três soluções… No entanto, nenhum dos novos portugueses sabe ir além do seu círculo de amigos (e de palavras), de tão globais que são perderam a noção do local. E as melhores soluções são locais. As soluções globais são sempre devastadoras!

Por uns tempos, vamos ouvi-los perorar uma linguagem barroca, sedutora. Aos amigos dirão que o orçamento é vasto e que a cultura não mais será ultrajada. Aos amigos prometerão que “casar” voltará a significar “juntar casas” e que as leis que contrariam os seus impulsos serão revogadas. Aos amigos imporão a lei do mais forte, do mais mecânico… Aos amigos  reafirmarão que não haverá mais limites nem fronteiras… Aos amigos mostrarão que nada há de ignóbil em acumular riqueza…

E os restantes, a maioria, nada poderão dizer, propor, impor… apenas lhes é exigido que, inebriados, votem no dia certo, à hora certa, nos novos figurões.

23.7.09

Em cena…

Questionado pela TSF sobre se admite voltar, o socialista Manuel Alegre respondeu: «Vai haver outras eleições, quem sabe se amanhã não posso voltar».

De saída da Assembleia da República, 34 anos depois de lá ter entrado, M.A. ameaça voltar. Porquê? E para quê? Se a luta política ainda o seduz, então não deve abandonar barco em tempo de tormenta.

Manuel Alegre encontrou o inimigo no seu próprio terreno e em vez de o enfrentar de dentro, prefere assistir à derrocada da sua própria casa – dar mesmo um empurrãozinho! - para, depois, regressar em glória…

Este tipo de encenação agrada a muita gente, mas defrauda a democracia, ao deixar no ar a suspeita de que quando se quiser se pode alterar o rumo e salvar a nação.

Antero de Quental, se pudesse regressar, voltaria a preferir o suicídio à espada de Dâmocles… e a Manuel Alegre o que se pede é que regresse à POESIA…

21.7.09

Os amigos da tirania…

Ultimamente, alguns comentadores políticos têm vindo a insistir que a Constituição não deve consignar qualquer reserva ideológica. E como primeiro argumento apontam que numa democracia consolidada não há espaço para qualquer tipo de proibição ou de sanção, porque o cidadão sabe, em cada momento, destrinçar o bem do mal. Muito gostaria de aprovar este raciocínio, mas a história mostra à saciedade que os grupos (as classes, as castas, as corporações, a arraia-miúda…) são facilmente manipuláveis e, raramente, agem de forma racional e respeitadora dos direitos humanos. Qualquer caudilho consegue cegar multidões e destruir, em pouco tempo, tudo o que sustenta a democracia…

Num tempo de profunda crise económica e ideológica, estes comentadores deveriam saber que este é um momento muito perigoso. É um momento favorável à tirania. E deveriam saber que um "bom" tirano é, por definição, um justiceiro que, ao sacrificar dois ou três prevaricadores, rapidamente agrega uma horda sedenta de vingança.

O TERROR começa por amar o livre-pensador para depois imolar os seus filhos…

E o terror habita em muitos de nós que, almas sensíveis, pouco nos importamos se, pela nossa acção, nos prestamos a sacrificar o primeiro que se atravessar no nosso caminho. A Constituição, em nome da Humanidade, deve definir os limites e não apagá-los definitivamente, porque se o fizermos o tirano esmagar-nos-á…

19.7.09

O anti-capitalista…

«O regime de atenção capitalista fundamenta-se numa alternância de concentração e distracção recíprocas, que desemboca, por um lado, em processos de intensificação da percepção e, por outro, em zonas de anestesia e passividade hipnótica.» Eduardo Prado Coelho, in O Fio da Modernidade, pág. 57, notícias editorial, nov. 2004

Registo, aqui, estas palavras de EPC, quando tudo nos anestesia e convida à passividade hipnótica. No meu caso, é o cérebro que recusa a anestesia e que se entretém a acordar-me com pesadelos que mais ninguém sofre. Como, por exemplo, o daquele aluno que, depois de ser esburgado de todos os seus haveres à entrada da sala de exame, bruscamente interrompe o meu sono, deixando-me em pânico, pois sobre a mesa em que resolve a prova avisto um manual e uma quantidade infindável de cadernos de apontamentos... Imperturbável, o aluno continua a tarefa, avesso a qualquer norma, a qualquer olhar… e eu debato-me, sem conseguir explicar como é que ele furou a vigilância… E tudo isto aconteceu, depois de ter descido à praia do Matadouro, onde adormeci, baixei a guarda, como me acontece sempre que desço ao areal, o que raramente faço, compreendo agora, para evitar o outro lado do capitalismo…isto é, a morte cerebral.   

17.7.09

Inaceitável…

Independentemente das vicissitudes da aplicação do modelo de avaliação  do desempenho, não é aceitável que na Administração Pública haja um grupo um grupo significatvo de funcionários que, a 31 de Dezembro de 2009, não tenham sido avaliados.

Não é aceitável que, no Ministério da Educação, a diferenciação entre docentes possa ser estabelecida pelas fórmulas de cálculo utilizadas. A última aplicação informática (ver Ficha VII) altera  a classificação final atribuída ao docente, se utilizada… e, por outro lado, dificulta a tarefa da Comissão de Coordenação de Avaliação ao aplicar as quotas.

Não é aceitável que a OCDE ao elaborar o estudo sobre a “Avaliação de Professores em Portugal” tenha ignorado, por inteiro, o papel atribuído aos Centros de Formação…

Não é aceitável que, no referido relatório, o perfil do avaliador interno seja mais exigente do que o do avaliador externo. E também não é aceitável que se queira  apostar em lideranças pedagógicas fortes, quando no processo de selecção e de nomeação esse requisito é desprezado…

E também não é aceitável que ao «atribuir um papel proeminente à Inspecção Geral de Educação», nada seja dito sobre o perfil dos inspectores que descerão ao “terreno”…

E não é aceitável que haja ajustamentos diários, ao sabor dos caprichos políticos, sindicais e de lideranças mais ou menos bem formadas…

Os docentes necessitam de alguma paz de espírito para levar a cabo a razão da sua existência: ensinar a aprender – educar, no sentido nobre do termo…

E tudo o que tem acontecido nestes últimos anos evidencia uma enorme falta de educação!

14.7.09

A resposta…

Finalmente, deixei de ser presidente de um Conselho Pedagógico. E já é a 2ª vez que isto me acontece. Nas palavras simpáticas de colegas de jornada e da nova Direcção: cumpri. Mas cumpri o quê? Será que a Escola se tornou mais participativa?

A resposta será dada em Setembro / Outubro. Se a Escola conseguir executar o programa de celebração dos 100 anos do edifício tendo como dinamizadores (e participantes) os seus professores e os seus alunos, então, poderei dizer: cumpri.

O programa comemorativo e plano anual de actividades devem  fundir-se num documento único (projecto) que convoque o passado e o presente com o olhar no futuro, que provoque o encontro dos antigos alunos e dos antigos professores com os actuais… Dessa mobilização poderá resultar o reforço da consciência identitária…

Num tempo em que cada vez mais se aposta no “homem tecnológico”, dimensão, sem dúvida, imprescindível, a ESCamões ainda está em condições de apostar no “homem humanista”. Se quisermos…

12.7.09

Não há sombra de…

Hoje, li uma dúzia de actas… na demanda de um balanço que acaba por ser ele próprio um constrangimento.  Detrás da enunciação o dispêndio do tempo, da vida, ergue-se sorrateiramente: - Tanto tempo para nada!?  Uma lista interminável de actos preenche o vazio da folha, dá-lhe vida. E a mim, traz-me cansaço, perturbação: – Devo ser simpático? Arrasador? Sentir-me gratificado? Traído?…

As respostas deixam de me interessar, e entro por outras páginas. Páginas de cumplicidade de Mário Sá Carneiro e de Ponce de Leão, autores de “A Alma”, onde esbarro na personagem Jorge que responde a Martim: «Nada que é tudo. / E é tudo porque a vida é constituída afinal por uma série de nadas. E logo o Ulisses de Fernando Pessoa me acena : O mito é o nada que é tudo.

E fito nas galerias do Liceu Camões, três vultos que fogem da sala 41, descem precipitamente a escada, e correm para o Clube Estefânia porque não podem perder a primeira temporada da Sociedade de Amadores Dramáticos: Sá-Carneiro, Ponce de Leão e Tomás Cabreira Júnior.

No balanço de 2008/2009, não há sombra nem de AMIZADE (1912) nem de A ALMA (1913). E é pena!

11.7.09

Amanhã, é tarde!

O pedagogo Raul Guerreiro, do Conselho Federal Parental Waldorf, na Alemanha, publicou um artigo na Revista Ibero-Americana de Educación em que dá o Magalhães como exemplo dos "perigos da robotização da educação". No ensaio, o investigador diz que a iniciativa, "anunciada como 'Revolução para a Educação em Portugal" reduz-se a "uma jogada promocional para acompanhar um big business internacional", e cita estudos que apontam riscos do uso de computadores na primeira infância.

Não sei (ou talvez não queira) determinar os riscos do uso de computadores na primeira infância, na adolescência ou na vida adulta. Sei, no entanto, que o Ministério da Educação faz tudo às avessas: primeiro, distribui os computadores aos alunos e, depois, exige que os professores façam prova das suas competências digitais (portaria nº 731/2009, de 7 de Julho). Há muito que o M. E. deveria ter definido e lançado um programa de formação de professores, tornando obrigatória a dimensão digital. Qual é a entidade formadora de professores deste país que aborda, de forma integrada, a dimensão conteudística com a dimensão digital?

Por outro lado, de nada serve o computador ou a competência digital docente, se as nossas escolas continuam sem as infraestruturas adequadas, correndo-se mesmo o risco de um aluno, no ensino básico, aprender a utilizar as ferramentas informáticas e, posteriormente, ao chegar ao ensino secundário, descobrir que a escola não disponibiliza de forma generalizada acesso à internet nem os professores recorrem aos computadores nos processos de ensino e aprendizagem. No fundo, este aluno terá que regressar à escola dos avós!

Não é que o M.E. não saiba que estes problemas existem. Sabe. Só que as soluções não obedecem a um programa de acção bem hierarquizado, que deverá dar prioridade à formação de professores (e não formadores!) e à resolução dos problemas concretos de cada escola (o M.E. não conhece as suas escolas!), em vez de apostar na propaganda, na culpabilização de pais e docentes, e, sobretudo, em despesas faraónicas (parque escolar) que, face ao fracasso  das duas prioridades apontadas, só servirá para endividar o país e engordar uns tantos…

A educação só vale a pena se for para Hoje. Amanhã, é tarde.

7.7.09

Palimpsesto falhado…

Espero que me desculpem a impropriedade… Como o “post” intitulado O Auditório não ficou gravado em pergaminho, perdi-lhe o rasto…, deixando involuntariamento o comentário do amigo A.S. acoplado a Um voto de confiança.

Um voto de confiança…

Afinal, ainda não é desta que me poderei diluir na paisagem. Creio que Freud me terá ensinado que na abordagem dos fenómenos a evidência nem sempre é segura. Todas as coisas humanas têm duas faces: a manifesta e a latente.

De manhã, estava convencido que a decisão seria primária, determinada pela evidência recente. Afinal o que estava latente era bem diferente: o desejo de consenso, de conciliação, de diálogo – de mediação.

(E eu que já me esquecera que há uma dúzia de anos fui certificado como mediador cultural!)

3.7.09

Um par de cornos...

O gesto marialva do Manuel Pinho resume a ambivalência do génio português. Sempre que damos um passo, desnudamos a rectaguarda. E porquê?

Porque prezamos a hipocrisia: Rimos a bandeiras despregadas do gesto e castigamos o bobo… Ora, se esta nação fosse sábia, o bobo, em vez de ser sacrificado, seria protegido…

Sócrates revelou mais uma vez que não é um homem de Estado. Não lhe faltaram, nestes quatro anos, motivos sérios para demitir ministros… No entanto, sempre que optou pela demissão de algum deles, fê-lo para agradar à plateia.

Uma plateia alarve para quem 100 mil professores na rua valem menos do que um par de bandarilhas…

De facto, a Sócrates falta capacidade para acompanhar e analisar o trabalho dos seus ministros, vendo, por exemplo, que nos Ministérios da Educação, da Agricultura e da Justiça há equipas de burocratas que, ao criarem permanente desregulação, sabotam permanentemente os objectivos das necessárias reformas. Prefere a arena (o palco) e, assim, expõe a sua enorme fragilidade…

2.7.09

Sobe e desce

Imagens iniciais, cada vez mais terminais. Um mundo que se abriu e que se vai fechando. Mais do que as palavras, na retina residem imagens implacáveis, porque situam irremediavelmente. Aqui, já só residem estranhos, embora consiga descortinar uma figueira por baixo da oliveira. E quanto à palmeira, está assente que por ali vai ficar, ela que já não se lembra da nogueira invasiva que fechava a curva do outrora caminho.

29.6.09

Apesar da cor…

Apesar da cor que envaidece, a raiz é imperceptível. Qualquer golpe de vento a seca e humilha. À sombra do arbusto, floresce enquanto a duna a não sufoca.

27.6.09

A guerrilha política…

A actividade principal da classe política e seus satélites é a guerrilha. O Governo deixou de ter um rumo e mais não faz do que tentar responder à sabotagem permanente… E como se sabe, o único objectivo dos múltiplos grupos de guerrilheiros é a conquista do poder, mesmo que isso signifique a destruição total das poucas forças produtivas…

Não se percebe para que serviu a maioria absoluta, se qualquer franco-atirador pode perturbar a governação e intoxicar a opinião pública, tornando-a volátil e caprichosa.

Em democracia, os governos eleitos por sufrágio universal deveriam poder governar até ao último dia do seu mandato… e os eleitores, em novas eleições democráticas, diriam se os eleitos tinham estado à altura dos acontecimentos ou não…

22.6.09

O futuro atormenta-me…

Não o meu, que, incapaz de acompanhar as exigências do tempo que corre, se torna cada vez mais passado inventado, porque o outro, o perfeito, se recusa a sair da toca…

Agora, quando me prometem um futuro radioso, desconfio. Se não vejo o projecto bem delineado, fico inquieto, não por mim, mas por meus filhos, pelos teus filhos e, sobretudo, pelos filhos que desconheço… Estes a que ninguém dá atenção e em nome dos quais se fazem as revoluções…

Hoje, a voz promissora de vários militantes ecoa no meu cérebro dividido: um leve arrebatamento esmorece à falta de projecto que dê rosto aos filhos que desconheço…

Daqui em diante, vou estar mais atento a esses filhos que bem poderiam ser meus… esse é o meu futuro!

Quanto ao resto, vou  distanciar-me para que a insustentável leveza do ser não me atraiçoe…

20.6.09

Junho, em Lisboa…

 Quando o calor ataca, sobre a relva artificial, anima-se o bairro…, mostram-se as artes performativas: os audiomenus despertam a atenção. Toma-se, na esplanada ou na relva, uma bebida ou uma refeição ligeira, e, simultaneamente, ouve-se uma peça radiofónica, à escolha. E eu que procurava reler O Render dos Heróis de José Cardoso Pires, ia pensando no modo como uma peça radiofónica poderia dar conta daquele «luar negro» que assombrava um povo dos confins do Alto Minho, e do «pano negro» que, ao abrir, dava conta da montanha e do vale, do terreiro e do cruzeiro, das «ferramentas de trabalho» aprendidas ao povo do Vilar. E sobretudo daquele Cego que fingia desconhecer a sua imagem e respectiva sombra, e que recitava a «Ladainha dos Bons Entendimentos». Talvez no próximo ano lectivo eu recorra ao audiomenu para que os meus alunos se deixem penetrar pelo discurso cénico (mas como?) que exige do leitor um verdadeiro esforço de leitura e de interpretação da História ( revolta da Maria da Fonte/ Salazarismo do início dos anos 60). Bem sei que alguns pensam que basta ler um resumo, e porque não sob audiomenu? O único inconveniente seria a obesidade.      Ali ao lado, na sala de ensaios do Maria Matos, Tiago Rodrigues experimentou, recorrendo à “dobragem” de vozes, sobrepor às palavras de um telejornal, outras palavras, procurando parodiar os acontecimentos do dia. O desempenho foi bom, mas tudo depende da qualidade do texto sobreposto.

Tudo isto num dia, em que percorri por três vezes o Parque de Saúde Mental, à procura do pavilhão 28. Paradoxalmente, não senti o calor infernal da Avenida de Roma, mas percebi que é difícil cumprir o código da estrada naquele labirinto e, também, reforcei a ideia de que a educação e a cultura, em Portugal, são apenas para gente abastada ou subsidiada. Como se compreende não me estou a referir ao Toni (?) Carreira que conseguiu entupir com autocarros de longo curso metade da Avenida Gago Coutinho. Talvez o Mário de Carvalho por lá tenha passado (pela avenida) e tenha decidido actualizar A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho!

16.6.09

Inaceitável... Constâncio

"- Ingenuidade? -Talvez."
Constâncio, homem de boa memória e raciocínio jesuítico, admite que talvez tenha sido ingénuo. E porquê?
Porque nas organizações actuais predominam os laços ideológicos, interpartidários, locais, familiares e de casta. Aceites na "família", beneficiamos da solidariedade do "sangue", tornamo-nos impunes.
Constâncio retrata na perfeição como as unidades orgânicas do Estado funcionam sem efectiva avaliação e regulação externas. As "famílias" que nos governam tornam-se autocráticas e fogem da acribia como o diabo da cruz.
Entretanto, o povo volta as costas ao castelo e nem percebe que nem o chão que pisa é seu. Por isso, ou entra para uma "família" ou é extinto...
A resignação e a abstenção nunca foram boa companhia. É preciso ser cada vez mais exigente com quem não tem pejo em parecer "ingénuo" e, ao mesmo tempo, recorre ao ataque soez...

13.6.09

Sem sair do país de Sócrates...

Na barragem do Maranhão, este sábado traz-me ao pensamento (à falsa memória) os impressionistas que trocavam Paris pelos recantos bucólicos dos rios e dos lagos franceses. Alheados da realidade envolvente, acampavam sobre relvados viçosos e penhascos erotizados Ao fim da tarde, regressavam taciturnos e mais obesos, mas disso não reza a pintura do século XIX. Hoje, não vi nem pintor nem paleta, vi apenas quadros, em alguns casos, cenas do quotidiano que sintomaticamente completavam o filme que vi ontem "Almoço de 15 de Agosto".
O argumento não era muito diferente. Só mudava o cenário e alguns detalhes (franceses!): os velhos satisfaziam o desejo de ser bons anfitriões desde que os não contrariassem; o filho já perdera pai e mãe (sorte a nossa!), ouvia-os atentamente e servia-os sob o toldo da autocaravana.
De política, não se ouviu falar. Apenas, o Correio da Manhã derramado sobre uma mesa de café. Rádio e televisão só com recurso a parabólica. Supermercado de stock esgotado. Piscina seca apesar da canícula. De diferente, as formigas pretas e enormes que insistem em trepar corpos desnudos... e, em particular, uma lição de lavagem de loiça divina... Quando um homem decide ensinar outro homem!

11.6.09

No país de Sócrates…


Sócrates: «Sempre pensei que os oradores e os sofistas são os únicos que não têm direito a censurar aqueles que educam pelo facto de estes serem maus para eles, porque, acusando-os, se acusam a si próprios de não lhes ter prestado os serviços que dizem ter prestado. Não será assim?», Platão, Górgias
As celebrações do 10 de Junho voltaram a servir para acusar os portugueses de descrença e de indiferença, na linguagem simples de Platão, de serem maus portugueses. Nem todos que também há bons portugueses, embora quase sempre aposentados! Certamente que os condecorados pertencem ao escol da Pátria: ex-ministros, militares ilustres, professores universitários, de preferência catedráticos, um outro artista mais ou menos desconhecido do povo, vários empresários, um capelão – no essencial, representantes de corporações e de minorias esclarecidas.
Desta vez, Cavaco assumiu que os políticos são maus portugueses e, ao mesmo tempo, saltou fora da barcaça, apresentando-se limpo de qualquer mau serviço prestado à Pátria. Preferiu deixar o recado que também ele merece ser condecorado, ele que insiste em insinuar na praça pública o que deveria debater em privado com Sócrates e Gama.
Do passado brota o bem, do presente jorra o mal.
António Barreto, por seu lado, exortou-nos, qual heterónimo pessoano, a descobrir bons exemplos já não no passado mas, sim, no presente! Creio, no entanto, que a emoção de participar no evento o impediu de ver a bandeja de condecorados servida pelo presidente. Todos bons exemplos! O orador bem poderia ter aproveitado para contar a história de alguns dos agraciados.
Há muito que nos contam "estórias" de proveito e exemplo e Barreto esteve próximo, mas falhou o momento.

8.6.09

Falsa surpresa…

Ao visitar o passado, deixo-me surpreender com as histórias que me contam sobre comportamentos antigos de protagonistas do presente. Começo a acreditar em Alfred Adler, discípulo de Freud, que defendia que dificilmente conseguimos alterar o nosso estilo de vida. Creio que Alfred Adler argumentava, perante a dimensão da maldade humana, que aos cinco anos de idade o nosso futuro já está traçado.

Há anos que arrumei o Alfred Adler na estante, um pouco zangado com a descrença dele no poder da educação… e, sobretudo, com a legitimação da irresponsabilidade do ser humano. No essencial, a educação só servia quem estava disponível para a acolher. Os outros, os rebeldes, mesmo que superiormente inteligentes, estavam-se borrifando para o esforço dos mestres…

Hoje, o J.M. contou-me umas histórias com cerca de 20 anos sobre uns conhecidos nossos que me obrigaram a relembrar o Alfred Adler. No essencial, trata-se da história de alguém (no plural) que tendo um dever para cumprir o olvida reiteradamente, de alguém capaz, para proteger os seus correligionários, de desrespeitar o princípio da equidade…

Se ao longo de todos estes anos eu tivesse sido fiel a Alfred Adler, hoje não teria sido surpreendido.

No entanto, tal como ainda não será hoje que vou verificar se a ideia que atribui a Alfred Adler é, de facto dele, também a surpresa confessada não passa de uma falácia… Entretanto, este meu suposto mestre, envergonhado, escondeu-se de mim…